Menina que via Filmes: Corpo e Alma [Crítica]

Título original: Testről és lélekről
Título em inglês: On body and soul
Título em português : Corpo e Alma 
País: Hungria
Duração: 1 h e 56 min
Gêneros: Drama, romance
Diretor: Ildikó Enyedi
#08

por Raffa Fustagno

Corpo e Alma não é um filme simples E eu sinceramente não sei ainda o que senti ao assistir esse filme. Ele começa super lento e mantem na verdade o ritmo de cinema europeu “mais cabeça” ao nos levar à cenas no meio da neve onde 2 cervos aparecem, não sabemos do que se trata, saberemos mais à frente. Não há fala, apenas os cervos andando juntos, e pronto.

Pula para cena de um homem na faixa de 60 anos que é diretor financeiro de um abatedouro, ele tem um dos braços imobilizado, saberemos depois que é por causa de um AVC. Ele conversa com os funcionários, mas Endres é um homem que não se mistura muito com os demais, de sua janela ele observa Mariá, a inspetora de qualidade nova, o gerente de RH já avisa que ela é insuportável e que é muito rígida.

Mariá aparenta uns 30 anos, vive sozinha e é considerada estranha por todos. Não fica claro no filme mas vi algumas resenhas dizendo que ela sofre de síndrome de Asperger pelos sintomas que ela apresenta em cena, ou seja, ela é autista. Pode ser que de fato seja, não sou profunda conhecedora do assunto mas alguns espectadores notaram que ela tem muitas características. Por exemplo: ela memoriza cada frase que as pessoas disseram à ela e sabe informar qual o número da frase, também sabe datas com uma precisão que impressiona como por exemplo datas que teve certas doenças na infância. Outros detalhes vão aparecendo ao longo do filme como quando ela demonstra que não gosta de ser tocada, no fundo Mariá parece ir descobrindo o mundo à cada cena e também demonstra que segue as regras com clareza, não aceitando que nada fuja do que é permitido.

O que vai unir esse improvável casal será um sonho, os tais cervos no início do filme e que também aparecerão em algumas cenas, são na verdade os 2, o que é descoberto porque teremos um roubo no abatedouro, e os dois a serem investigados por uma psicóloga relatam exatamente o mesmo sonho.

Edres parece encantado pela nova funcionária mas de forma alguma sua insistência pode ser vista com maus olhos, até porque ele mesmo é um homem sozinho que foge de relacionamentos depois de ter se machucado com o amor tanas vezes. Diferente de de Mariá que nunca teve contato com homem algum, ela ainda se consulta com seu psicólogo de quando era criança e insiste com ele em fazer perguntas que visivelmente o constrangem até porque ele é um especialista em menores de idade.

Nesse cenário soma-se as cenas indigestas de como funciona um abatedouro, as vacas penduradas, as formas como são cortadas...e sangue, muito sangue toma conta da tela nos fazendo desejar sermos veganos. É nesse local que os 2 convivem, ela mais do que ele na parte interna , já que é ela quem coloca o selo do tipo de carne de cada animal após abatido.

Há cenas onde se percebe ainda mais o como falta algo da normalidade em Mariá, ela nem sequer ouve músicas ou tem um celular  e as cenas onde se permite conhecer isso são fantásticos.

Talvez, assim como eu me senti, o filme não seja bem recebido a uma primeira vista, ele tem o ritmo lento, os personagens não são o que chamamos de simpáticos e o amor deles é lotado de bizarrices para o que chamamos de comum. Mesmo assim, o filme merece ser visto, sua diferenciação lhe rendeu uma indicação ao Oscar de melhor filme estrangeiro de 2018, a Hungria ganhou recentemente por um filme  que não curti muito: Saul. É capaz de levar novamente a estatueta.