Título Original: Un Traductor
Título no Brasil: Um tradutor
Data de lançamento 4 de abril de 2019 (1h 47min)
Direção: Rodrigo Barriuso, Sebastián Barriuso
Elenco: Rodrigo Santoro, Maricel Álvarez, Genadijs Dolganovs
Gênero Drama
Nacionalidades Cuba, Canadá
por Renata Alves
O ano é 1989 e a cidade é Havana. Malin é um professor universitário de literatura russa e da noite para o dia, o curso é suspenso e ele, junto com os outros professores são obrigados a trabalharem no hospital, servindo de tradutores para os pacientes soviéticos vítimas de Chernobyl. Esse é o enredo do filme “O Tradutor”, baseado em fatos reais – mais precisamente, na vida do pai dos diretores do filme, os irmãos Rodrigo e Sebastián Barriuso.
O início do filme tem um tom de exaltação dos tempos de ouro de Cuba, trazendo um ar saudosista até. A abertura mistura cenas ficcionais (com Malin, vivido por Rodrigo Santoro, e seu filho se espremendo entre a multidão para ver o líder soviético Mikhail Gorbatchev em sua visita à Cuba) e cenas reais de arquivo (de Gorbatchev e Fidel Castro), trazendo desde o primeiro instante os fatos que guiarão o desenrolar da história.
Malin tem uma vida estruturada, com um bom emprego, uma boa casa e uma família feliz. O maior drama de sua vida naquele momento inicial é conseguir terminar sua tese de doutorado, que ele tenta conciliar com o trabalho. Da noite para o dia, literalmente, sua vida muda totalmente. Ao chegar para lecionar, descobre que o curso de Literatura Russa foi suspenso e os professores foram designados para um novo trabalho, de início imediato. O trabalho é noturno, e logo de cara, isso mostra que o equilíbrio que havia em sua vida será alterado. Quando Malin descobre que seu novo trabalho será auxiliar uma enfermeira, a argentina Gladys, na ala pediátrica do hospital, atuando como tradutor entre as crianças e familiares soviéticos e os médicos, claramente ele se mostra sem estruturas.
A forma como os diretores se preocupam em mostrar o lado humano, individual, mas também em contextualizar o momento político dos fatos é um dos pontos altos do filme. Não há um exagero que pese para nenhum dos lados. Tem o toque certo de informação para que o drama seja compreendido. Assim, o público entende que Cuba, com seu excelente sistema de saúde internacionalmente reconhecido, recebeu até 2011 pacientes que foram expostos à radiação do acidente em Chernobyl. Entretanto, havia a necessidade de facilitar a comunicação e a forma encontrada foi o mecanismo ditatorial de obrigar o cidadão qualificado a ajudar o governo.
Em sua função de tradutor, Malin superou e transcendeu em muito as expectativas. Como a própria Gladys diz para Malin ao final do filme, ele não fez apenas a obrigação, ele foi muito além. Malin se envolveu com as crianças, buscou maneiras de se comunicar, de tornar o hospital um lugar agradável, um local onde apesar da situação que passavam, pudessem sentir-se acolhidas e compreendidas. Como pai e marido, no entanto, Malin não consegue manter o mesmo ritmo. Seu casamento entra em crise e a relação com o filho vai ganhando distância. Isona, sua esposa, que descobre estar grávida logo no início de toda essa transição, passa a lidar com a gravidez sozinha. Junto a isso começam a surgir as dificuldades financeiras, causadas pelo impacto do fim do projeto socialista e a derrocada da URSS.
Um dos momentos mais sublimes e tocantes do filme é quando o jovem Alexi, que devido a sua situação debilitada vive em isolamento, atende ao pedido de Malin e escreve um poema sobre o acidente. A sensibilidade com a qual ele observa o fato e como isso mudou sua vida ê espetacular e emocionante.
É preciso falar sobre a atuação de Rodrigo Santoro. Quem assistiu ao seu trabalho em Carandiru e Bicho de Sete Cabeças sabe da sua qualidade como ator. Embora suas participações em filmes hollywoodianos não mereça nenhuma citação honrosa no geral, ele tem seguido sua carreira por lá com constância, tanto que segue na série Westworld. Porém, em O Tradutor, ele pôde voltar a explorar todas as nuances emocionais que um bom drama exige. Para além, Rodrigo aprendeu russo para o filme, uma vez que suas falas são todas em espanhol, e russo. Um trabalho de grande imersão e dedicação.
O filme foi aclamadíssimo no Festival de Sundance de 2018, e não teria como ser diferente. É uma belíssima homenagem dos diretores ao pai, com um tom de proximidade proposital ao espectador que envolve e comove. A trilha sonora caribenha cativa e nos transporta para a ilha, e a fotografia, apesar de não ser nada excepcional, complementa esse retrato da ilha caribenha. O Tradutor tem crítica ao mesmo tempo que tem saudade e tem admiração, tanto pelo pai quanto por Cuba. E é impossível não ser afetado com a história das crianças que adoeceram em consequência da explosão da usina nuclear em Chernobyl, porque, de fato, aconteceu. Não é ficção. É uma tristeza latente que emociona a todos.
*Cabine de imprensa à convite da assessoria
*Nossos colunistas são voluntários, os textos assinados por eles são originais, de suas autorias.
Santoro é incrível!!!Desde que vi Bicho de 7 Cabeças em apaixonei pelo trabalho do autor, que navega por outros mares e mesmo assim, consegue manter o país em seu coração!
ResponderExcluirPor isso, desde que vi a chamada para este filme a primeira vez, já pensei e sabia que viria coisa boa! Até por ser baseado em fatos reais e tão intensos!!!
Esperar chegar no cinema aqui de Lost e conferir com toda a certeza do mundo!!!
Beijo
O filme parece bem interessante, fiquei curiosa para ver
ResponderExcluirRenata!
ResponderExcluirBom ver um filme baseado em fatos reais, ainda mais em uma Cuba quando ainda estava no auge e poder apreciar o trabalho feito pelo protagonista, é enternecedor.
Sem contar que tem o delicioso Rodrigo Santoro.
Deve ser um filme bem sensível.
cheirinhos
Rudy
Me incomoda quando a pessoa é melhor desempenhando o papel de pai/mãe para outras pessoas do que c/ a própria família, não entra na minha cabeça. Mas é uma história interessante, pretendo assistir.
ResponderExcluirQuando vi o trailer do filme eu fiquei com muita vontade de assistir, depois da crítica a vontade só aumentou !
ResponderExcluirBeijos 😊