quinta-feira, 11 de abril de 2019

Menina que via Filmes: After [Crítica]


Título Original: After
Título no Brasil: After
Baseado na obra de Anna Todd
Data de lançamento 11 de abril de 2019 (1h 46min)
Direção: Jenny Gage
Elenco: Josephine Langford, Hero Fiennes-Tiffin, Samuel Larsen mais
Gêneros Romance, Drama
Nacionalidade EUA
por Clara Savelli

Acho que a melhor maneira de começar essa crítica é dizendo que não sou fã de After. Ou melhor, dizendo que não gosto nem um pouco do livro e que acho a história de Tessa e Hardin problemática em níveis catastróficos. Meu único carinho por After é porque ele foi o livro mais lido do Wattpad (ultrapassando os bilhões de leituras) e o primeiro livro a ter sido adaptado para as telonas. Inclusive, uma das coisas mais legais de ter ido nessa cabine de imprensa foi ter visto o logo do Wattpad Studios no início do filme, junto com todas as outras produtoras. Fiquei emocionada de verdade e espero que ele seja o primeiro de muitos. As obras do Wattpad têm ganhado espaço nas adaptações. Antes de After, Barraca do Beijo conquistou corações na Netflix e Light as a Feather explodiu no Hulu – ambos baseados em livros da plataforma. Por isso, minha expectativa para o filme estava abaixo do chão.

Em defesa de After – se é que dá para dizer isso – minha experiência com Barraca do Beijo foi horrenda. Odiei o filme do início ao fim e fiquei constrangida de ter sido ele a primeira representação do Wattpad na Netflix. Eu sei que o filme foi um sucesso, mas infelizmente não dá para dizer que a história é boa. Ela é machista, retrata relacionamentos super tóxicos abusivos e o único momento bom do filme é quando ele termina. Sou bastante radical quando o assunto são livros e filmes para o público adolescente – é meu nicho de escrita, mas também sou ávida consumidora deles. Livros e filmes como Barraca do Beijo ajudam a perdurar situações que nós não queremos mais na nossa sociedade e ensinam para os adolescentes que aquele tipo de abuso psicológico é amor. E não é.

Tendo sido feita toda essa introdução, eu cheguei na sala de cinema para a cabine bastante receosa. Todavia, o que eu vi em tela superou minhas expectativas. Talvez o motivo seja o fato delas estarem, como eu disse, muito baixas. Mas mesmo assim, fiquei positivamente impressionada. A adaptação mudou bastante o tom do livro e o perfil dos personagens, transformando After em um filme muito melhor do que seu livro original – mas ainda longe de ser um grande romance adolescente ou um bom exemplo de relacionamento. 
Bem, se você nunca ouviu falar sobre After, vamos a um resumo rápido do filme: Tessa e Hardin se conhecem no primeiro ano da universidade e são completamente opostos. Ela, uma nerd tímida, que gosta de ler e namora o mesmo menino a vida inteira. Ele, um bad boy cheio de traumas do passado, que só veste preto e só sabe se comunicar com sarcasmo. Os dois começam se odiando e se bicando loucamente, mas em algum momento o ódio se transforma em uma avassaladora paixão... Mas será que existe amor ali ou é tudo uma mentira? 
O primeiro contato de Hardin e Tessa na adaptação é no quarto de Tessa no alojamento. Ele é amigo de sua companheira de quarto e quando Tessa volta do banho, enrolada na toalha, Hardin está lá jogado na cama da amiga dela. Os dois começam uma discussão e, antes dele ir embora, entrega para ela o livro que ele pegou da estante de Tessa e que estava lendo enquanto esperava a amiga deles chegar. É o Grande Gatsby. Hardin diz que não quer dar spoilers para ela, mas que no final era tudo um sonho. Ela responde que, na verdade, não era um sonho. Só não era real. Achei esse primeiro diálogo dos dois uma boa analogia para todo o relacionamento deles: não era real. É tudo uma aposta.
Metáforas, analogias e menções a obras literárias estão presentes no livro todo. Em outra cena, os dois começam a discutir sobre o relacionamento dos protagonistas de Orgulho e Preconceito, deixando os colegas confusos: será que estão falando de Darcy e Elizabeth ou estão falando deles dois? Eu achei essa construção de roteiro bem legal, especialmente porque os dois são ávidos leitores de romances (apesar de ele dizer que não acredita no amor).
Hardin é muito pior no livro do que no filme. Na adaptação, ele não passa nenhuma fronteira da Tessa sem ela autorizar. Está constantemente perguntando se ela quer, se ela tem certeza, se ele pode mesmo fazer aquilo, etc. Seu perfil de bad boy foi muito suavizado para se adaptar a um “bad boy padrão” (que quebra a casa quando briga com o pai, enche a cara, não namora, etc) e se afastar do boy lixo atômico que ele era no livro. Seu comportamento é justificado, mesmo no filme, com seus traumas do passado. Seu pai, que hoje é o bem-sucedido reitor da universidade que eles estudam e noivo de outra mulher, era um alcoólatra que foi responsável por muito sofrimento e por cenas que nenhum menino de oito anos deveria ver. Se isso é motivo para ser desse jeito, é questionável. Mas, ao menos no filme, Hardin parece ainda ter salvação.

Mesmo a questão da aposta, que talvez seja a pior coisa no livro inteiro, foi bem suavizada no filme. No livro, Hardin aposta com os amigos que é capaz de tirar a virgindade de Tessa. No filme, a aposta foi que ele era capaz de fazê-la se apaixonar por ele e depois larga-la (pois, para ele, o amor é algo que você é capaz de fingir e de ligar e desligar). Esse tipo de aposta já rolou muitas vezes em outros filmes e romances adolescentes, como o clássico “Ela É Demais”. A diferença, talvez, é que Ela é Demais é um filme da década de 90, onde esse tipo de comportamento não era considerado tão problemático. Qualquer tipo de aposta com os sentimentos de alguém é uma grande forma de abuso. Todavia, considerando esse paralelo livro x filme, sou forçada a admitir que a situação ficou perfeitamente tragável na adaptação cinematográfica.
Talvez porque, de fato, dá para ver que ele começa a gostar dela. Hardin é sempre muito claro com Tessa, mesmo quando ele estava fingindo estar interessado nela. Em momento algum ele finge estar perdidamente apaixonado por ela. Inclusive, sempre fala que não namora, que não faz essas coisas e esses discursos de bad boy que já conhecemos muito bem. Tessa também tem um perfil muito diferente do livro. Longe de ser a menina submissa que aceita tudo que Hardin faz com ela, a Tessa das telonas é bem mais dona de si e empoderada. Por exemplo, quando ela usa o termo “nós” para se referir a eles dois e Hardin surta, dizendo que não namora, ela simplesmente vai embora e para de falar com ele. Não derrama uma lágrima sequer! Tessa vive colocando o garoto no lugar e seu comportamento foi responsável por não me dar uma sensação de inferiorização. Apesar dos problemas e dos pequenos abusos do comportamento “bad boy padrão”, a relação deles parece ser minimamente equilibrada. Mesmo no momento que revelam a situação da aposta, ela fica sensibilizada e chora, mas dá um sermão nele e vai embora.
O filme não é perfeito. Longe disso. Não é nada feminista. Tem um monte de ódio entre meninas. Não tem representatividade. Os dois se apaixonam perdidamente do nada. Se odeiam, mas depois dele fazer a aposta, ele decide que quer recomeçar o relacionamento dos dois e ser amigo dela. O discurso é que ele é amigo dos amigos dela e que eles vão continuar se encontrando. Até aí tudo bem. Mas nesse mesmo diálogo ele já fala que quer levar ela em um lugar especial. E ela aceita ir. E é simplesmente um lago perfeito e o “lugar favorito” dele. Sendo que ele tinha acabado de dizer que eles deveriam ser amigos. A situação causa muita estranheza. Meninas, não entrem em carros de meninos que vocês mal conhecem para ir em “lugar favorito” nenhum, tá bem? A escalada do relacionamento deles é muito rápida e esquisita. E, de certa maneira, parece que eventualmente ela fica sem ninguém. Não tem amigas, briga com a mãe por causa do cara e seu melhor amigo era seu namorado (que obviamente não quer ver a cara de Tessa nem pintada de ouro). Esse namorado, inclusive, também tem veias muito abusivas no início filme (ele não quer deixar a Tessa viver a vida dela, sair para festas da faculdade e etc, e fica torturando a menina por celular). Além disso, as falas de “amor” de Hardin são bastante possessivas, sempre dando a entender que ela é uma espécie de propriedade dele (“não acredito que você é minha”). Parece fofo, mas não é.
Minha impressão final é que poderia ser pior. Poderia ser bem pior. A adaptação cinematografia pegou uma bomba gigantesca e transformou numa bomba mais contida. Eu, particularmente, acho Barraca do Beijo uma bomba maior. O filme vai agradar quem é fã do livro e quem gosta desse tipo de relacionamento tempestuoso. Mas lembrem sempre que esse tipo de relacionamento não é amor, é cilada! 

Cabine de imprensa à convite da distribuidora
*Nossos colunistas são voluntários, os textos assinados por eles são originais de suas autorias. 

6 comentários:

  1. Eita Lelê! rs
    Falar(escrever) o que depois disso tudo?? Tipo, eu gostei de Barraca do Beijo, e ponto final.
    Estou doida para ver After, mesmo sem ter lido os livros, mas até então, sabia o que iria encontrar no filme(afinal, dei uma pesquisada nos livros né?).
    Agora lendo tudo isso acima, não sei é de mais nada!
    Só posso dizer que assim que chegar no cinema daqui, verei!
    Aí se vou curtir, é outra história!
    Beijo

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  2. Nossa, o mais dificil deve ter sido ler o livro. E concorso contigo, a barraca do beijo é hiper problematico. A unica defesa foi ter sido escrito por uma adolescente. Pior eh q falam q vai ter um segundo filme. Quanto a esse, eu n consegui ler o livro. N tive estomago. Mas depois da resenha, talvez veja o filme kkkk bjosss

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  3. Só conheço a história pelo que comentam e tenho zero vontade de conhecer kkkkk

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  4. Clara!
    Não li o livro, nem assisti o filme, mas achava que tinha algo haver com relacionamento abusivo, não sei porquÊ...
    Não assisti nem li A barraca do beijo também, por isso, não tenho como comentar.
    Fiquei intrigada, essa é a verdade.
    cheirinhos
    Rudy

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  5. Olá!
    Eu já ouvir fala muito desse filme e dos livros. Não li e nem assisti mas espero ter em algum momento a oportunidade de ver e também de ler né. Mas apesar disso o filme tem uma ótima trama!

    Meu blog:
    Tempos Literários

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  6. Não li os livros dessa série , não fazem o meu estilo. Imaginava q o filme seria polêmico por causa do relacionamento entre os personagens.
    Agora até deu curiosidade em ver como ficou o filme.
    Beijos 😊

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