Título Original: The Miseducation of Cameron Post
Título no Brasi: O Mau Exemplo de Cameron Post
Data de lançamento 18 de abril de 2019 (1h 31min)
Direção: Desiree Akhavan
Elenco: Chloë Grace Moretz, Sasha Lane, Forrest Goodluck
Gênero Drama
Nacionalidade EUA
por Larissa Rumiantzeff
Aviso de gatilho
O filme da vez é um drama independente estrelado por Chloë Grace Moretz. A obra é uma adaptação do romance homônimo de 2012 voltado para o público jovem-adulto. É dirigido por Desiree Akhavan que compartilha também os créditos do roteiro com Cecilia Frugiuele. Além disso, é uma máquina do tempo incômoda, e uma prova do que meu professor da quinta série disse uma vez: a história sempre se repete.
O mau exemplo de Cameron Post não é um filme típico de sessão da tarde, e não digo isso por causa da temática. Não é um romance. Se quiser ver piqueniques, passeios pelo parque e marshmallow, indico “Com amor, Simon”. Se quiser um romance mais tórrido, procure, de repente, “Me chame pelo seu nome”. O mau exemplo de Cameron Post é um drama, e dos mais indigestos.
Em 1993, Cameron está se preparando para o baile da escola. Ela mora com a irmã, e se descobre apaixonada pela melhor amiga, Coley Taylor. Sempre que podem, as duas ficam juntas às escondidas, até que são pegas no flagra pelo namorado da Cameron. É aí que a vida da adolescente muda completamente. Ela é internada à força em um acampamento de “cura gay” no meio do nada. O nome do acampamento é “God’s promise”, Promessa de Deus, em inglês.
Comandado pela terapeuta Lydia Marsh e seu irmão, o “gay convertido” Rick Marsh, o lugar reúne vários adolescentes LGBT, que, nas palavras dos irmãos, não são gays, mas sofrem de “confusão de gênero”. Suas dinâmicas, que Rick garante que o “curaram”, envolvem tarefas domésticas, terapia em grupo, exercícios apropriados para cada gênero, e confronto, com uma boa dose de culpa cristã e auto depreciação, além de contato restrito com a família.
Ao longo do filme, Cameron conhece melhor os outros adolescentes e suas histórias, e faz amizade com Jane Fonda, uma garota hippie, e Adam Red Eagle, um Winkté (que significa dois espíritos) da tribo norte-americana Lakota. Tem inclusive uma certa amizade com Rick.
“O mau exemplo de Cameron Post” é um filme bem-feito, com atores talentosos. Chloë Grace Moretz é criticada, um ódio injustificado, na minha opinião. Ela sempre mostrou talento, desde o início da carreira, e aqui não foi diferente. Além disso, Chloë tende a ser politicamente engajada, e a escolher papéis difíceis e desafiadores. O fato de ela ter escolhido atuar nesse filme só conta mais pontos a seu favor.
Mas não é o único nome que se destaca. Forrest Goodluck, o Adam, fez papel do filho do Leo Di Caprio em “O Regresso”, o Hawk. O filme conta ainda com a atuação primorosa da atriz britânica Jennifer Ehle, dando vida a Lydia Marsh, uma psicóloga que causa impacto pelo contraste entre seu jeito calmo e sereno e o comportamento que beira a sociopatia. Antes da vilã, Jennifer já tinha um currículo extenso, que inclui papéis como Lizzie Bennet, em Orgulho e Preconceito, Josie em Vox Lux (outro filme resenhado aqui), a mãe de Anastasia Steele na trilogia dos 50 tons, e Contágio. As melhores cenas do filme são os embates entre Cameron e Lydia em que as duas atuam no mesmo patamar.
A trilha sonora é eficiente pela ausência: só ouvimos alguma música quando ela está sendo tocada para os adolescentes, e geralmente representa uma fuga. Ela está presente no primeiro ato, durante o baile, antes de Cameron ser descoberta, em um momento específico de descontração na cozinha e em um show de música gospel no acampamento, momento de diversão controlada. Fora isso, o único som que ouvimos é o das falas e o do ambiente. Esse momento mostra bem a escolha acertada da direção.
Apesar de ser um filme mais alternativo, tem as pontas bem amarradas. Sabemos exatamente o que está acontecendo na história e é possível entender o seu desenrolar sem fazer um exercício mental muito extenso. Sabemos exatamente como a protagonista evolui ao fim do terceiro ato e, nesse sentido, apesar de independente, não se trata de um trabalho experimental. Não chega a ser apelativo: as cenas de nudez e sexo estão dentro do contexto da história.
Mais incômodo do que as cenas ou referências a sexo é ver a que são submetidos os adolescentes na história. Se a idade já é confusa, com dúvidas, conflitos, e descobertas, imagina isso em um contexto em que ser você é considerado pecado? Imagina estar em um lugar em que a sua orientação sexual, parte de quem você é, é considerada uma doença, tipo alcoolismo ou dependência química, e estar entre pessoas que, longe de te aceitarem e apoiarem, te convencem o tempo inteiro que o que você deseja é errado. Some-se a isso uma psicóloga tão maquiavélica que distorce conceitos legítimos de psicologia e te convence de que não, seus pais não têm orgulho de você. Se você tem uma religião, condicionam a sua salvação a abrir mão da sua natureza. Imagina dizer isso para uma pessoa que já está sozinha, sem a família, em uma posição vulnerável? Estamos em uma era de conscientização, em que as pessoas estão sendo apresentadas a conceitos como relações tóxicas e abuso emocional, muito presentes na narrativa.
Mesmo situado no início dos anos 90, O mau exemplo de Cameron Post é contemporâneo. Estamos vivendo uma onda de intolerância no mundo inteiro. Mesmo no âmbito nacional, temos ministros retrógrados e uma agenda governamental que visa claramente discriminar as minorias. Se ainda não temos acampamentos desse tipo, é uma questão de tempo. E isso, para qualquer pessoa que tenha amigos LGBTQI, ou que faça parte desse grupo, é aterrorizante. O impacto desse filme é mostrar que, em quase 30 anos, pouca coisa mudou. Essas pessoas continuam sendo alvo de ódio, de preconceito e de abuso. E por isso mesmo é tão necessário.
O gênero jovem-adulto é um dos meus gêneros preferidos, por lidar com autoconhecimento e crescimento. O filme trata de um tema capcioso com sensibilidade, o que me deu vontade de ler o livro. Alguns filmes causam incômodo por causar, outros te fazem pensar muito depois que as luzes se acendem. Felizmente, esse foi o último caso.
Apesar da qualidade, da relevância para os dias de hoje e da importância, não recomendaria este filme para qualquer público. Não diria que é restrito ao público LGBT, os temas são universais, mas é uma história que se passa nesse contexto. O enredo prende, comove e os personagens são bem desenvolvidos. Porém, não é todo mundo que encara um filme mais realista, com teor mais crítico, sobre esse tema. Além disso, pode conter gatilhos, e dependendo da sensibilidade para temas como abuso emocional e suicídio, pode fazer mais mal do que bem. É importante se conhecer, saber o que você encara e o que prefere evitar.
Crítica 2
Jéssica de Aguiar
Baseado em fatos reais que também deram origem ao livro homônimo, “O mau exemplo de Cameron Post” se passa nos Estados Unidos durante o início dos anos 90. A história é centrada na jovem Cameron (Chloë Grace Moretz), que teve o romance ardente com sua colega de estudos bíblicos flagrado, pelo seu então namorado. Em decorrência do flagra, Cameron é enviada por sua tia para uma espécie de acampamento religioso que possui como foco aplicar a “cura gay” em jovens.
A instituição, liderada pelo reverendo, que considera curada sua “confusão de gênero” (John Gallagher Jr.) e a terapeuta que mistura técnicas nada ortodoxas com doses exageradas de religião (interpretada por Jennifer Ehle). O espaço tem os moldes de um acampamento de inverno, com direito a trilhas e esportes (separados por categorias de gênero) ao ar livre, mas é também cercado por uma atmosfera opressora que busca inserir por meio da religião, preconceitos e aversão aos desejos.
Embora a trama seja focada na história de Cameron e sua possível conversão, outros personagens também recebem destaque. Com diversos dramas e diferentes formas de enfrentá-los, os jovens internos se cruzam na ruptura em suas trajetórias de autodescoberta que resulta nas internações.
As dúvidas e descobertas que acometem qualquer jovem na fase da adolescência são aqui abordadas de forma impactante. É exposto como a revelação da sexualidade que foge às expectativas familiares ou sociais podem se tornar uma verdadeira prisão, forjada nos preconceitos e limitações impostos.
A obra mostra de forma crua, tão crua que se torna incômoda em certos momentos, como um dogma pode ser utilizado para reprimir e manipular indivíduos, e levanta questionamentos sobre liberdade de identidade, de sexualidade e religião. Isso é o que torna “O mau exemplo de Cameron Post” uma obra atual apesar de ser ambientada há mais de 20 anos atrás.
Cabine de imprensa à convite da distribuidora
*Nossos colunistas são voluntários, os textos assinados por eles são originais de suas autorias.
*Alguns filmes são feitas críticas por mais de uma vez no blog, é o caso desse onde 2 colunistas assistiram para darem sua opinião.
Eu acabei vendo este filme já tem um tempinho(ele acabou "vazando" na internet bem antes de ser lançado.
ResponderExcluirConcordo em parte com as duas opiniões, não é um filme leve, não é um enredo gostoso de ser visto, mas sei lá, eu penso que ainda há tanto disso hoje em dia e que em algum lugar, deva ter um lugar como apresentado no filme, onde se pode "curar" a sexualidade de alguém(ou no mínimo, temos milhares que acreditam nisso)
É um filme denso, triste..pesado.
Mas eu? Super recomendo! E oh, Chloe é magnífica!
Beijo
Adorei as críticas, já estava acompanhado notícias sobre o filme, e estou doida pra ver, ana a Chloe <3
ResponderExcluirQuando vi o trailer um tempo atrás fiquei com muita vontade de assistir. Vou tentar ver agora q saiu aqui.
ResponderExcluirBeijos 😊
Olá!
ResponderExcluirEu amo muito essa atriz, ela atua muito bem. Não tinha visto esse filme e nem sabia dele, agora sabendo fiquei um tanto curiosa por ele. O enrendo aborda tema muitos interessantes e mostra coisas bem real, que chega a ser perto da realidade.
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