quarta-feira, 7 de agosto de 2019

Menina que via Filmes: Não Mexa com Ela [Crítica]



Título em português: Não mexa com ela
Idioma: Língua Hebraica
Direção: Michal Aviad
Roteiro: Michal Aviad, Michal Vinik, Sharon Azulay Eyal
Distribuição: Pagu Pictures
Produção: Lama Films
Elenco: Liron Ben-Shlush, Menashe Noy, Oshri Cohen, Sarah Markowitz, Irit Sheleg, Jill Ben David, Dorit Lev-Ari, Corinne Hayat
por Larissa Rumiantzeff

Filme sobre assédio no local de trabalho deixa pouco por conta da interpretação.
Pode conter spoilers. 
Esses dias, um homem conhecido me mandou uma pergunta pelo whats app: “Você acha que ainda existe machismo? Até que ponto?”
O filme do qual eu falarei hoje é apenas uma das respostas a essa pergunta. Mais do que isso, é uma ilustração do porquê o feminismo continua sendo muito necessário. 
Não mexa com ela”, filme israelense com roteiro e direção de Michal Aviad podia ser feito no Brasil, de tão familiar e incômoda que é a realidade que retrata. Não precisaria nem de legenda para entender essa história indigesta. E ninguém melhor para captá-la, traduzi-la em um roteiro e colocá-la na tela do que uma mulher. Da forma mais explícita possível.

Nesse drama, Orna é uma mãe de família com três filhos pequenos. Diante das dificuldades financeiras que ela e o marido Ofer enfrentam, devido à abertura de um novo restaurante, Orna decide reingressar no mercado de trabalho. O local onde é contratada é uma empreiteira, ou imobiliária, e ela será uma espécie de secretária executiva do arquiteto Benny. Desse ponto em diante, ela precisa articular uma tripla jornada de trabalho, como mãe, profissional e esposa. Demonstrando excelência no cargo em que ocupa, a ponto de ser promovida, ao chegar em casa ainda precisa cuidar dos filhos. É aí que vemos e sentimos as micro agressões pelas quais Orna passa diariamente. 
O marido é aquele pai que “ajuda” em casa, porém muitas vezes atrapalha e reclama de fazer qualquer coisa além do mínimo. Quando a filha fica doente, ele não pode ficar para cuidar dela e espera que a mulher falte a uma reunião importante. Os filhos pequenos pedem a mãe o tempo todo. É ela que ajuda a filha mais velha com os trabalhos escolares. Porque Ofer “precisa trabalhar”. Para a mãe, trabalho e família precisam ser administrados com a mesma competência. Ofer, no entanto, fica feliz em deixar os afazeres familiares a cargo da esposa.  

Durante o expediente, ela precisa lidar da melhor forma possível com os avanços indesejados e inapropriados do patrão, que começam com comentários aparentemente inocentes ao olhar masculino, como observações sobre o seu cabelo e suas roupas, e vão escalando para comportamentos cada vez mais agressivos. Orna releva até onde pode, por pura necessidade. Como coloca mais de uma vez, ela precisa trabalhar. E é boa nisso. 
Quando o assédio de seu patrão chega a um ponto irreversível, Orna precisa se perguntar se em algum nível tudo foi culpa sua. 
“Não mexa com ela” é uma pílula atual, amarga e difícil de engolir, cujo intento é nos fazer pensar. A história de Orna me deu nojo, raiva, revolta, tudo junto, como uma série de Easter Eggs que só as mulheres conseguem detectar. Benny é um antagonista claro e definido, mas não é o único ali. Ao dizer que não poderia ficar em casa cuidando da filha ou se ressentir das realizações da esposa, atribuindo a sua promoção ao assédio, ignorando tudo do que ela abdicou para estar ali, e pior, insinuar que ela teria culpa pelos avanços do chefe, Ofer também se torna um dos antagonistas. Mas Ofer não assume nenhuma responsabilidade. Afinal, “ele não assediou ninguém”. E se um homem assediou sua mulher, alguma coisa ela deve ter feito. Tanto ele enfatiza isso que Orna chega a se questionar. 
A melhor parte fica por conta do desfecho, porém a sensação que fica é de uma batalha dentre muitas que Orna ainda terá que vencer. Porque os vilões ainda estão no comando. 
O único ponto negativo do filme é a parte técnica. Como um filme estrangeiro de um idioma tão distante para nós, a legenda deveria ser o mais visível possível. Porém, não é o que acontece. Tive dificuldade de acompanhar algumas passagens, pois a legenda branca se confundia com as cenas. Imagino que isso fique por conta da distribuição. 
Recomendo para todas as mulheres, se tiverem estômago. Para os homens o filme é uma ótima pedida, se acompanhado de uma ou mais mulheres, seguido de um debate sobre o assunto. 


*Cabine à convite da distribuidora
*Nossos colunistas são voluntários, seus textos são autorais e de responsabilidade dos mesmos.

5 comentários:

  1. Carambola!!! Há tempos não lia uma crítica tão dolorida e ao mesmo tempo tão necessária. Num tempo onde as mulheres tem lutado cada vez mais por direitos nossos de uma vida toda, ainda há, infelizmente, casos assim sim. Nao somente do tal marido ou companheiro que "ajuda" de vez em nunca, dos filhos que não se viram sozinhos ou de patrões machistas e de caráter duvidoso.
    Fiquei só meio apreensiva pela legenda branca, mas mesmo assim, vou tentar conferir. Beijo

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  2. Já fiquei com raiva só de ler, uma história tão real, as mulheres vem enfrentando essa e outras situações a tanto tempo, mas felizmente paramos de nós calar, agora ganhos voz e vamos falar para todos o que acontece!!!!

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  3. Infelizmente isso ainda acontece muito no Brasil. A realidade diária de uma mulher é enfrentar 3 turnos, e se algo não é exatamente como eles esperam ou aparece, pronto, a mulher é alvo de desconfianças e críticas, e não raro "se aponta aquele dedinho", "ora ela "deu mole" ou " veiu-se ou portou-se de forma provocativa", e vejam, até por outras mulheres !!! Amei suas colocações e com certeza verei o filme.

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  4. Oiii ❤ Esse filme parece a realidade perfeita do que muitas mulheres passam diariamente.
    Ser assediada é horrível, com o marido falando que a culpa é de Orna, é pior ainda. Triste é saber que essa desculpa idiota de machistas "algo você fez", é muito usada. Isso é revoltante! Meu Deus, quando é que as pessoas vão entender que a mulher não tem culpa de nada?!
    Maridos também precisam entender que suas esposas não são suas empregadas particulares. Um casamento é uma mão de duas vias, tem que ser um ajudando o outro e não só a mulher fazendo tudo, só por ela ser mulher.
    Obrigada pela indicação, eu preciso assistir esse filme.
    Beijos ❤

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  5. Olá! É tão triste que existam tantas mulheres espalhadas ao redor do mundo que enfrentam a mesma realidade de Orna.
    É revoltante que além de ter que conviver com um marido que reclama muito e faz de menos e coloca todas as responsabilidades familiares em suas costas, Orna ainda sofre assédio do patrão. E o mais triste é que ela se questiona se é a culpada pelo que está passando, sendo que ela não tem um pingo de culpa.
    Obrigada pela indicação, com certeza vou assistir esse filme, acho importante que filmes como esse sejam produzidos, para mostrar o quanto as mulheres sofrem na nossa sociedade machista e quantas situações difíceis protagonizam todos os dias.
    Beijos!

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