Menina que via Filmes: A Família Addams - Animação [Crítica]

Título Original: Addams Family

Título no Brasil: A Família Addams

Data de lançamento 31 de outubro de 2019 (1h 27min)

Direção: Conrad Vernon, Greg Tiernan

Elenco: Charlize Theron, Oscar Isaac, Chloë Grace Moretz 

Gêneros Animação, Família

Nacionalidade EUA

por Larissa Rumiantzeff

Animação não decepcionará os fãs mais saudosistas. 

Eu confesso que tinha um certo medinho de conferir o novo “A família Addams”. Desde a versão de 1993, com o saudoso Raul Julia, Anjelica Houston, Christopher Lloyd, Christina Ricci e Joan Cusack no elenco, nenhuma outra havia me chamado a atenção. Até agora. 

Aqui, a história é desconexa dos filmes anteriores, pois o bebê Pubert não havia nascido, e Vandinha e Feioso ainda eram menores. Vandinha tem uns 13 anos, enquanto Feioso tem uns 11. 

O filme começa com a história do casamento de Mortícia e Gomez, os motivos de terem ido parar na casa macabra onde vivem, e sabemos a origem de alguns personagens mais conhecidos. 

Treze anos mais tarde, os Addams se preparam para o Mazurka do Feioso, uma espécie de rito de passagem em que o Homem da família demonstra suas habilidades na esgrima, na frente de toda a família, e se torna um homem. Porém, à medida que o grande dia se aproxima, Gomez vai ficando mais preocupado, mesmo alistando a ajuda do irmão, Tio Chico, e da vovó Addams para prepará-lo. Isso gera aquela tensão: de um lado, Gomez tem medo do que acontecerá com o filho, do outro, o menino que tem medo de decepcionar o pai.

Vandinha, por sua vez, está entediada por não ter outras pessoas além de sua família, com quem conversar (e atormentar). Em meio a tudo isso, a apresentadora inescrupulosa de um programa de TV estilo “Irmãos à obra”, Margaux (ou Margô) Agulheiro, decide que a mansão dos Addams atrapalha os seus planos de vender casas na vizinhança. E ela fará tudo em seu poder para dar aquele tapa no visual da mansão, ou expulsá-los dali de uma vez por todas, usando todas as armas a seu dispor, éticas ou não. 

Nisso, Vandinha e Parker, filha de Margaux, se conhecem e ficam amigas, o que rende um dos momentos mais engraçados do filme, na minha opinião. Vandinha no ensino fundamental II. Aos poucos, uma menina influencia a outra e Vandinha chega a usar uma presilha de unicórnio (não é spoiler, está no trailer). 

A comédia está presente no roteiro, com as piadas, nas cenas e nos detalhes (como capas de livros, e referências a jogos, por exemplo), o que deve agradar aos adultos que cresceram com a franquia e aos seus filhos e netos. Outro detalhe ótimo fica por conta da trilha sonora, não só no plano de fundo, mas tocada pelo Tropeço. 

“A família Addams” segue aqui um caminho inverso do que vemos normalmente na mídia. Antigamente, sitcom, desenho animado, depois virou filme e agora, animação 3D. Pessoalmente, considero um caminho sábio, mas que não funcionaria tão bem sem um bom roteiro. Felizmente, foi o caso deste. 

Na versão em inglês, os personagens foram dublados por nomes atuais como Finn Wolfhard e Chloë Grace Moretz, experientes em filmes e séries com um tom mais sinistro, e mais tradicionais, como Charlize Theron como Mortícia, Oscar Isaac como Gomez e Bette Midler como a Vovó. Porém, como diria Glória Pires, não tenho como opinar nesse quesito. A versão dublada, no entanto, estava muito boa mesmo assim. 

Apenas um detalhe parecia ser inconsistente com as versões anteriores, e fui pesquisar a respeito. Vale notar que Mazurka, o rito de passagem dos Addams (que lembra muito um Bar Mitzvah), é diferente da Mamushka, uma dança tradicional dos Addams que aparece nos filmes anteriores. 

“A família Addams” não foge da premissa original do cartunista Charles Addams desde sua em meados do século XX: uma família macabra que é o inverso da família ideal norte americana. Grande parte do humor se dá pelo contraste entre eles e as pessoas ditas “normais”, e suas respostas a situações sociais cotidianas, como idas ao mercado, escola, interação com outras pessoas etc. Aqui, o contraste fica marcado entre o estilo de vida da família e dos habitantes da cidade planejada com ares de Disney World. 

Aqui, vemos duas premissas principais: o esperado conflito entre os Addams e a sociedade, e o que é considerado normal, e a relação entre pais e filhos, e como os pais querem o melhor para os filhos e ficam com medo diante dos novos tempos, das influências dos amigos e até do que a família pode pensar, sem levar em conta o que os deixa felizes. Daí, temos várias reações familiares frente a isso: Margô e a filha que virou gótica, Mortícia com a filha usando rosa, Gomez e o filho que não segue as tradições familiares. Muitas alegorias, caros mios. 

A versão de 2019 continua sendo um filme voltado para a família, porém com mensagens ótimas, atuais, sem perder o senso de humor sarcástico e macabro e mostrando, mais uma vez, que de perto, ninguém é normal. Mas que, se for para ser esquisito, seja feliz. E que Gomez e Mortícia são muito #relationshipgoals, mesmo depois de tantos anos. 

Meu veredicto? 5 Claquetes, ou seriam 5 caveirinhas?

2ª Crítica - por Gabriela Leão 

Há muita agitação na mansão da Família Addams. Feioso, ajudado por Gomez e Tio Chico, precisa treinar para aprender a Mazurka, tradição familiar, e demonstrar suas habilidades como espadachim na cerimônia de passagem para a vida adulta, que contará com a presença de todos os seus parentes. Vandinha começa a ter curiosidade sobre o mundo fora da casa, para além do nevoeiro,  criando tensão com Mortiça. Para a sorte de Vandinha, sua oportunidade logo aparece, o pântano que cerca a casa é drenado, o nevoeiro se dissipa, e a família descobre que, logo no pé da colina onde fica a mansão, foi construída uma nova cidade. 

Idealizada por uma apresentadora de reality show de reconstrução de casas chamada Margaux Agulheira, a cidade de Assimilação representa um (exagerado) sonho americano. As ruas parecem uma vila da Disney, todos estão muitíssimo felizes em sua normalidade, sempre conectados no grupo de celular de conversa dos vizinhos, agindo completamente dentro da norma. Então, é claro, quando a família Addams resolve por visitar, surge um certo desconforto. 

Vandinha começa a frequentar a escola pública e adquire um estranho gosto por... cores? A amizade com Parker, filha de Margaux, influencia as ideias das duas meninas. Mortiça se vê atarefada com a grande cerimônia da Mazurka, tendo ainda que resolver o problema da filha e sua um tanto quanto peculiar rebeldia. Gomez e Tio Chico se desesperam para tentar ensinar Feioso à largar os explosivos e adquirir alguma habilidade com a espada. Margaux faz de tudo para retirar a mancha que é a velha mansão Addams da vista de sua cidade perfeita. 

O desenrolar disso tudo é – apenas – maravilhoso. Não consigo deixar de ser parcial ao falar desse filme, eu amo a Família Addams, o senso de humor encaixa com o meu de forma perfeita, e a animação não é diferente - ri o filme todo. Fora isso, é sofisticado para uma animação ter tramas diversas, na maioria seguimos um protagonista, ou uma dupla, a maior parte do tempo. Claro que existem exceções, como Procurando Nemo, e assim como pai e filho dividem o foco neste filme, com os Addams seria bastante difícil dizer qual membro da família tem maior relevância. Feioso tem o desafio dele, Vandinha está em um momento diverso e em nada relacionado. Os planos de Margaux Agulheira são ainda outra coisa, Parker tem seu tempo de tela. Tudo gira em torno da nova cidade e mudanças de vida, mas cada um dos 4 principais familiares tem uma questão própria sendo desenvolvida. 

É bem interessante a atenção aos detalhes. As vezes a piadinha está na capa de um livro, no que acontece no fundo, uma menção no meio da fala que quase passa batida. O estilo da animação varia de acordo com cada personagem da família, sendo bastante caricato para expressar perfeitamente quem são essas pessoas. Não há um formato específico do desenho, fora ser 3D, - Mortiça é muito diferente de Vandinha, que é muito diferente de Feioso, de Gomez, de Tio Chico. Essa parte não se limita aos principais, quando chegam os outros familiares, cada um tem seu jeitinho. Todo ambiente também foi tratado com carinho, a mansão Addams tem pequenas coisinhas em todo canto, a casa de Margaux em Assimilação transmite algo (não vou dizer o quê), as ruas da cidade são propositalmente construídas como um cenário perfeito em sua falsidade.  

A versão brasileira foi bem dublada, na minha opinião não muito analítica para esses aspectos. Gostei que o jeito dos personagens foi mantido, maneirismos ao falar.  

O filme é perfeito? Quase. Mas só digo quase por que sou muito detalhista analisando tramas. Gostaria de um final maior para Vandinha, por exemplo, mas talvez isso seja por uma predileção da personagem, já que Feioso arrasa na conclusão. Ainda assim, tem aspectos da trama da Vandinha que achei bastante espertos, fazem um contraponto ao resto do filme que fica bem interessante. A verdade é que é bem difícil encontrar o que criticar, a animação é divertidíssima. Já estou me dando a desculpa de que seria interessante assistir a versão em inglês, como o elenco é fortíssimo, só para poder ver de novo. 

A música tema continua na minha cabeça, e eu quero mais.