Título: Maria do Caritó
Autor da obra original: Newton Moreno
Direção: João Paulo Jabur
Roteiro: Newton Moreno, José Carvalho
Elenco: Lília Cabral, Gustavo Vaz, Juliana Carneiro da Cunha, Leopoldo Pacheco, Larissa Bracher, Kelzy Ecard, Fernando Neves, Alice Assef, Fernando Sampaio, Priscila Steinman
Data de lançamento no Brasil: 31 de outubro de 2019
por Larissa Rumiantzeff
Como explicado no início do filme, Caritó é um termo nordestino para uma prateleira ou nicho que existe nas casas, onde se guarda itens que não podem ser tocados, como alfinetes ou coisas de valor. É também o termo machista usado para a mulher donzela, que nunca se casou.
Maria do Caritó é uma mulher de seus 50 anos, à beira da menopausa. Maria é virgem, prometida ainda bebê um santo, São Djalminha, em troca do reestabelecimento de sua saúde. Acontece que, nunca tendo sido consultada se queria ou não ser santa, vive infeliz e com fogo nas partes íntimas. O que quer mesmo é encontrar uma paixão arrebatadora. Tal qual uma adolescente, Maria, com a ajuda de sua amiga Fininha, realiza rituais para saber a inicial de seu grande amor, e paga ciganas para saber a sua sorte. E é uma dessas ciganas que diz a ela que o seu amor virá de longe. Nisso, um circo chega na cidade com o artista russo canastrão Anatoli, por quem Maria se apaixona.
Acontece que toda a cidade gira em torno de sua pureza: igreja, coronéis, seu pai e a população, e não vão abrir mão do seu patrimônio tão fácil assim. O padre articula com o vaticano a canonização dela, com base em milagres que não passam de coincidências. O coronel pretende conseguir votos com sua ajuda. O pai vive dos elixires milagrosos que prepara com o suor da filha (pausa pra cara de nojinho). Os religiosos fazem romaria e literalmente carregam-na pela cidade. Isso é que se chama ter uma pepeka de ouro. Mas de que adianta ter o brinquedo, se ninguém te deixa usar?
Para quem não sabe, Maria do Caritó é uma adaptação de uma peça homônima de Newton Moreno que ficou mais de 5 anos em cartaz. A peça foi escrita especialmente para o retorno de Lília Cabral aos palcos. Para o filme, Newton fez uma parceria com José Carvalho (com quem eu já tive aula na faculdade, tirei onda).
O começo do filme foi bem divertido. Lília Cabral é uma atriz completa: atua, dança, faz papel de avó malvada em novela de Manoel Carlos, e aqui também não deixa a desejar. Fiquei com vontade de ver a peça, para ver as diferenças na adaptação.
O humor é sutil, presente mais nos detalhes e nas cenas do que em piadas ou frases feitas. Um exemplo ótimo é a cena em que ela canta um “Pupurrite”, ou com a estranheza da letra de música dos religiosos na romaria.
O que se vê aqui, bem como em outras comédias que têm por cenário o Nordeste e dá protagonismo ao povo, é a crítica social mordaz. Todos são aproveitadores na cidade, todos têm interesses escusos na dita pureza de Maria do Caritó, e sustentam uma mentira para fins financeiros. O povo e Maria se dividem entre a igreja e o circo, e são ludibriados pelos truques de ambos. Essa crítica às cidades governadas pelos interesses dos poderosos está presente também em outras obras, como “O auto da Compadecida” e Roque Santeiro, e por ela sozinha o filme já valeria a pena.
A história é mais triste do que qualquer coisa. Mesmo nos momentos ternos, a palhaça é a figura triste, que, no centro do picadeiro, nos faz rir, enquanto ela mesma sofre.
Os enquadramentos e a fotografia estão ótimos, feitos com maestria para envolver o espectador na história.
Contudo, não é perfeito. Apesar da atuação impecável da Lília Cabral, o roteiro tinha certos furos. O final também deixou um pouco a desejar. Não me entendam mal, um final empoderado é interessante, mas me pareceu forçado em vista da história que é prometida no trailer. Faltou algo aqui. Não tinha o ritmo nem o humor de “Lisbela e o prisioneiro” nem de “O auto da Compadecida”, o que talvez frustre um pouco os fãs do gênero ou quem tenha assistido à peça. Como eu disse, talvez seja um problema na adaptação de um meio para o outro.
Mesmo assim, recomendo “Maria do Caritó” para quem curte filmes brasileiros. Mesmo não sendo perfeito, não deixa de ser divertido, de ser interessante e de fazer pensar.
Ahhh!Primeira crítica que leio sobre este filme e como aprendi a olhar com bons olhos o nosso cinema nacional, este é com certeza um filme que verei sem problema algum!
ResponderExcluirLília é maravilhosa, mesmo eu não acompanhando tanto isso de novelas, teatro. Mas a mulher é diva! E essa pegadinha de crítica social no Nordeste é algo que eu amo em longas nacionais!
Verei com certeza!!!
Beijo
Rubro Rosa/O Vazio na Flor
Olá! ♡ Ainda não conhecia esse filme, mas achei a premissa interessante.
ResponderExcluirA Lília é uma atriz maravilhosa, muito talentosa. Já quero conferir o filme!
Não sou muito fã de filmes brasileiros, mas gostaria de assistir esse.
Beijos! ♡
Adorei a resenha, fiquei morrendo de curiosidade de assistir, uma pena ter alguns furos e o final não ter agradado, mas sempre bom ver um filme nacional, não é? kkkkk
ResponderExcluirLarissa!
ResponderExcluirAlém de amar a Lilian CAbral, o filme fala sobre o nosso universo nordestino, então, só por aí já quero assistir, afinal, como boa nordestina, tenho de acompanhar. O caritó é bem conhecido por aqui.
E a crítica ao 'coronelismo' e é bem raiz dos nossos interiores.
cheirinhos
Rudy
Oiii ❤ Nossa, achei muito injusto a personagem ter que ser santa e tudo mais por causa dos interesses de outras pessoas e não dos próprios dela. Gostei da crítica feita aos interesses dos governantes.
ResponderExcluirAchei bem nojento o pai da personagem usar o suor dela para fazer um elixir milagroso. Fiquei horrorizada com isso kkkk.
Estou curiosa para saber se a personagem encontra alguém para amar e se liberta disso tudo.
Beijos ❤