quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Menina que via Filmes: Papicha [Crítica]


Título Original: Papicha 
Título no Brasil: Papicha
Data de lançamento 31 de outubro de 2019 (1h 45min)
Direção: Mounia Meddour
Elenco: Lyna Khoudri, Shirine Boutella, Amira Hilda Douaouda mais
Gênero Drama
Nacionalidades França, Argélia, Bélgica, Qatar
por Michelle Fraga

 Papicha, produção franco-argelina, chega com o pé na porta como quem tem muito a dizer. 
O enredo se passa no final dos anos 1990, época em que a Argélia passava por um período de dura repressão, sobretudo as mulheres, do radicalismo islâmico em ascensão.
Nadjima, nossa protagonista apelidada de Papicha, é uma garota que acaba de entrar na faculdade de moda. Sua mãe é costureira e incrivelmente bastante liberal, nunca obrigou as filhas a usar o hijab, e a menina que cresceu entre tecidos, desenhos e recortes sonha e criar sua própria linha de roupas e estrear suas criações em um desfile na faculdade. 

A problemática: o regime islâmico proíbe arduamente que mulheres circulem sem o véu e, pior, a faculdade sofre represália: aulas são interrompidas por homens e mulheres armados, aulas ministradas em francês são proibidas pelo estado islâmico, a própria reitora da universidade sofre ameaças de morte caso permita que manifestações culturais aconteçam dentro dos portões da faculdade. 

Percebemos nas entrelinhas do enredo uma grande metáfora em torno do véu: é o tecido símbolo da opressão feminino, é um tecido que serve para esconder os cabelos das atenções masculinas, mas serve também para esconder armas em um período de extrema violência, é um tecido que pode ser manchado de sangue de centenas de vítimas que pagaram com a vida, mas também é um tecido que pode ser tingido de infinitas cores, até onde a imaginação de Nadjima a levar. 
Nadjima é uma menina muito independente, que não está habituada a pedir permissão para seguir seus sonhos e vontades. Ela e suas amigas da faculdade organizam sozinhas não só o desfile de moda, mas também confeccionam todas as roupas a partir do tecido do hijab.
O que mais chamou a minha atenção nesse filme foi o posicionamento das câmeras, a diretora Mounia Meddour opta pelo uso das câmeras em mãos, e não fixas num trilho, as cenas são filmadas dinamicamente, com a câmera muito próxima ao rosto das personagens de forma que nos sentimos lá, ao lado de Papicha, vendo o medo em seus olhos, sentindo sua respiração ofegante, é tudo tão real que eu juro que me deu vontade de dar na cara daqueles repressores por diversas vezes kkkkkkk. 
Papicha é um filme algumas vezes pesado, entretanto muito necessário. E, apesar dessa densidade, eu sai da sala do cinema com uma sensação de esperança no ar: esperança de que mulheres, um dia, não serão obrigadas a fazer o que não querem, e de que se permanecermos íntegras aos nós mesmas, ninguém poderá nos calar.

5 comentários:

  1. Michelle!
    A temática do filme parece bem interessante, como tudo que ronda a cultura mulçumana é sempre bem importante de aprendermos.
    cheirinhos
    Rudy

    ResponderExcluir
  2. Caramba!Não sabia nadinha sobre este filme,por isso tudo que li acima, já me pegou meio na surpresa.
    Infelizmente é uma cultura e sim precisa ser respeitada. Mas até quando?? Até quando as meninas vão crescer se escondendo? Achando que um véu pode as proteger da maldade do ser humano?
    É tudo tão injusto..e ao mesmo tempo que lendo acima, dá vontade abraçar a mãe pela forma de criação, dá um certo medo, pois a gente sabe pela tv, internet e filmes, que o negócio pra lá é cruel!
    Verei com certeza!
    Beijo

    Rubro Rosa/O Vazio na flor

    ResponderExcluir
  3. Olá! ♡ Ainda não conhecia esse filme, mas quero muito. De fato, os temas abordados são pesados, mas extremamente necessários. São temas que precisam ser trabalhados.
    É tão revoltante ver que existem lugares em que as mulheres não podem se vestir da maneira que querem, são constantemente oprimidas. Mas não podemos perder a esperança nunca de que um dia a realidade será outra e todas as mulheres ao redor do mundo serão totalmente livres.
    Adorei o post! Beijos! ♡

    ResponderExcluir
  4. 1990? Esse filme bem poderia ser atual, pq o tema é muito, infelizmente ainda temos muito a luta para ser escutadas e podemos viver livremente e sem represálias!!! Fiquei super curiosa para assistir esse filme, mas com medo dessa câmera na mão, odeio quando fica balançando a imagem...

    ResponderExcluir
  5. Oiii ❤ Preciso assistir esse filme!
    É realmente muito triste saber quanta repressão as mulheres sofrem em diferentes lugares ao redor do mundo, que muitas não tenham a liberdade de escolher o que quer para si.
    É triste que as mulheres precisam usar o véu, que ele claramente seja um símbolo da repressão sobre elas.
    Eu também espero que um dia as mulheres possam ser realmente livres, donas de si mesmas e de suas próprias decisões.
    Beijos ❤

    ResponderExcluir

Sua opinião é muito importante para mim! Me diga o que achou dessa postagem e se quiser que eu visite seu blog, informe o abaixo de sua assinatura ;)