domingo, 3 de novembro de 2019

Menina que via Filmes: Retábulo [Crítica]



Título Original: Retablo
Título no Brasil: Retablo
Data de lançamento: 7 de novembro de 2019 (1h 41min)
Direção: Álvaro Delgado-Aparicio
Elenco: Junior Béjar Roca, Amiel Cayo, Magaly Solier 
Gênero: Drama
Nacionalidades: Peru, Alemanha, Noruega
por Gabriela Leão



Retábulo são as caixas de madeira cuidadosamente pintadas por Segundo Paucar e seu pai, Noé, que trazem em seu interior pequenas esculturas retratando pessoas, famílias e santos. Noé é um grande artesão, apelidado de Mestre, e Segundo anseia em seguir os passos do pai, mas ainda não é capaz de reproduzir seu trabalho com a mesma qualidade. Enquanto auxilia Noé na confecção e entrega dos retábulos, Segundo começa a perceber que o pai em quem se espelha não é tão perfeito assim. Com a quebra de uma inocência antes tão bem preservada, em um ambiente bastante conservador de uma comunidade pequena nos Andes, Segundo tenta lidar com a maturidade e com descobertas sobre seu pai. 


O longa é pré-indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro pelo Peru, e é fácil de entender o porquê. Há filmagens lindas das paisagens nos Andes, principalmente quanto aos arredores da casa onde Segundo mora com a família, onde também fica a oficina de seu pai. Não foram necessárias muitas localidades para contar esta história, mas me pareceu que o filme apresenta muito bem a vida de uma pequena comunidade, composta majoritariamente de nativos, no Peru. Os detalhes nos adereços, no cenário, não estamos vendo um filme que recria aquela sociedade, é apenas algo sendo apresentado para o expectador, que não a conhece. Claro, me incluo nesse grupo, e não tenho como atestar pela veracidade de tudo o que é mostrado, mas sinto que vi o que é real para muitas pessoas no Peru. 
Há muita sensibilidade neste longa, no relacionamento entre Segundo e Noé, o filho buscando se assimilar ao pai em todos os aspectos, e como isso afeta a mãe, Anatolia. Interessante também a dicotomia entre o núcleo familiar de Segundo, amoroso, que gira em torno da arte, da criação meticulosa de coisas pequenas e belas, e a comunidade ao redor, com um melhor amigo que cuida de porcos e tem um linguajar bastante grosseiro e vulgar, jogos de futebol que só terminam em briga, violência. Segundo parece alheio, um recorte que não se encaixa por completo, ao mesmo tempo querendo se enquadrar de alguma forma. 
Quanto a direção, é um assunto do qual não entendo muito, mas tiveram certas cenas em que achei a filmagem claustrofóbica, cortando perto demais dos rostos dos personagens, principalmente no início do longa. Não sei se houve um motivo específico para apresentar a cena daquela forma, mas o resultado em mim foi criar um desconforto em um momento do filme que não pedia por essa sensação. Em contrapartida, mais para o final, há cenas em que gostei bastante da forma em que se decidiu filmar, aí sim a direção ajuda a passar a sensação que a circunstância pede. 
Vale lembrar, o filme trata de Segundo, como ele encara o mundo ao seu redor, como lida com isso. A importância não está em uma história que acompanhamos, mas sim em quem é esse jovem e o que está sentindo, como absorverá mudanças e quais serão suas reações e decisões. Ou seja, é um produto mais lento, o expectador precisa de tempo para digerir as informações junto de Segundo, pensar e sentir com ele. Nesse aspecto também há um outro grande mérito, e do ator Junior Béjar Roca, que faz o papel do jovem: boa parte da reação de Segundo ao que lhe acontece é ficar em silêncio, mas ainda assim conseguimos, ou pensamos conseguir, entender o que se passa em sua mente. Segundo diz muito enquanto calado. 
São muitas pequenas coisas que formam o caráter de Segundo, detalhes que nos mostram como ele está se sentindo, que vão se somando um ao outro para criar o personagem. Acompanhamos uma curta jornada vivida por Segundo em Retábulo, mas é, com certeza, emocionante. 


3 comentários:

  1. Eu já tinha lido sobre esta indicação e lendo acima, entendo os motivos que levaram até essa escolha.
    Parece o tipo de filme que emociona e já gostei!!!
    O cinema peruano não é tão visto, infelizmente, e oh, há obras maravilhosas.
    Verei assim que chegar aqui em Lost!
    Beijo

    Rubro Rosa/O Vazio na Flor

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  2. Adorei a crítica, apesar do filme ser meio parado, o que não curto muito, achei interessante trazerem as descobertas e crescimento do garoto, e ainda em um país que não estou muito familiarizada dos costumes...

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  3. Gabriela!
    Gosto de filmes que trazem a realidade de um país que não conhecemos mais a fundo e traz o drama interior de um adolescente em descoberta pessoal e de decepção com o pai.
    cheirinhos
    Rudy

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