Menina que via Filmes: Entre Facas e Segredos [Crítica]

Título Original: Knives Out

Título no Brasil: Entre Facas e Segredos

Data de lançamento: 05 de dezembro de 2019 (2h 11min)

Direção: Rian Johnson

Elenco: Daniel Craig, Chris Evans, Ana de Armas, Christopher Plummer

Gêneros: Policial, Comédia, Drama

Nacionalidade: Estados Unidos

#236

por Gabriela Leão

Uma homenagem às histórias clássicas de detetive, principalmente à rainha do crime, Agatha Christie, Entre Facas e Segredos traz o mistério da morte de Harlan Thrombey, um excêntrico escritor de sucesso, justamente no gênero policial. No dia seguinte da sua festa de aniversário, realizada na mansão onde mora e contando com a presença de todos os seus familiares, o corpo de Harlan é encontrado em seu estúdio. A polícia rapidamente declara a morte como suicídio, mas insiste no interrogatório de todos os membros da família Thrombey, com a presença inesperada do detetive particular Benoit Blanc.

As expectativas com relação a este filme, para mim, estavam contraditórias. Vi o cartaz, depois o trailer, e pensei que seria uma brincadeira incrível com os mistérios clássicos, meio sátira, meio sério, fiquei ansiosa. Então vi que o roteiro era de Rian Johnson. Bem, eu sou do time que ainda não perdoou o diretor e roteirista pelo Episódio VIII de Star Wars, e passei a ter minhas dúvidas quanto a Entre Fracas e Segredos. Mas nem todas as birras são eternas, e o novo longa de mistério de Rian Johnson me deu nova admiração pelo diretor. Talvez Star Wars seja a exceção em seu trabalho. 

Por que Entre Facas e Segredos é sensacional, eu não ria tanto em uma sala de cinema fazia tempo. São muitos os méritos do filme, vou começar pelos personagens, e o primeiro tem que ser Benoit Blanc, o detetive particular norte-americano que por algum motivo (que fora das telas sabemos muito bem ser uma homenagem à Poirot), tem esse nome afrancesado. Daniel Craig está incrível, o personagem divertidíssimo trazendo aquele comportamento peculiar clássico dos detetives que tanto amamos na literatura policial. O filme trás uma boa sacada, diferentemente de muitas histórias de mistério, nas quais acompanhamos a investigação do protagonista e tentamos desvendar a trama junto dele, em Entre Facas e Segredos o expectador tem bem mais informação do que Benoit Blanc. Com isso, acompanhar os passos do detetive se torna ainda mais engraçado, já que sabemos o quão próximo ele está – ou não – da verdade. Mas relaxe, o público tem apenas uma quase onisciência, e ainda temos aquela subversão de expectativa clássica do gênero, que não poderia faltar.

A família também está bem construída, há uma brincadeira com estereótipos e arquétipos, sem ser tão exagerada, e os personagens são uma caricatura, mas não extrema. Dito isso, a interação dos personagens é maravilhosa, mesmo quando não estão juntos na mesma sala. No momento dos interrogatórios, em que vamos conhecendo cada vez mais quem são os Thrombeys, Rian Johnson fez um jogo de cortes, saindo de um personagem para o outro, misturando perguntas e respostas, que ficou muito divertido. O filme tem uma vantagem aqui, como todos os membros da família são interpretados por atores reconhecidos, não acontece de prestarmos mais atenção em alguém em especial por sabermos, simplesmente pelo ator ou atriz que representa o papel ser mais famoso, que tal personagem terá maior importância. Como resultado, ficamos atento à todas as pistas, questionando o envolvimento de cada um no mistério da morte do patriarca da família. 

Partindo para o cenário, a maior parte do produto se passa na mansão de Harlan Thrombey, e não poderia ser diferente. Faz parte do aspecto de sátira do filme que o crime se dê na enorme casa, com toda a família presente, e ainda mais sendo o lar de um escritor de romances policiais excêntrico, cheio de passagens escondidas. A mansão é exatamente o que imaginei, por diversas vezes, lendo os romances policiais de Agatha Christie. 

Apesar de trazer uma brincadeira com os clichês do gênero, a trama ainda é interessante, e se leva a sério o suficiente para não ficar boba. Não é só uma comédia, ainda se mantém o aspecto policial. Não temos a maior subversão de expectativas do mundo, as dicas dadas ao longo do filme pecam um pouco na falta de sutileza, mas, em meio a proposta do longa, acabam por virar uma piada em si, um comentário sobre a dinâmica das histórias de detetive. Para os amantes do gênero policial, mas não só, Entre Facas e Segredos é incrível de assistir, engraçadíssimo e envolvente, um ótimo filme. 

Confira a Crítica da Raffa Fustagno em Vídeo