segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

Capítulo 7 - La Chica en La Ventana ( Meu Lar, Meu Destino (Doğduğun Ev Kaderindir) - Zeynep aparece e conta sobre seus pais

 













É importante alguns avisos antes de começar a leitura:

  • O Livro Camdaki Kiz ainda não foi publicado no Brasil. Na Espanha ele ganhou  o nome de La Chica en La Ventana  e é possível lê-lo em e-book no Brasil nessa versão em espanhol, os comentários que tenho feito são baseados nessa leitura
  • Traduzi algumas partes e após os vídeos farei uma análise da novela x livro. 
  • Não sou tradutora de profissão, portanto, alguns trechos podem conter equívocos de linguagem, assim como erros ortográficos pois o texto abaixo não passou por um revisor especializado.


LA CHICA EN LA VENTANA - CAPÍTULO 7

Assim tenho que tenho atender minha próxima paciente, uma senhora chamada Zeynep, que vem me ver pela primeira vez, se esquecendo que essa é uma instituição médica e estará sentada diante de uma doutora.

Precisa se sentir suficientemente acomodada para se abrir emocionalmente. Antes de levar os pacientes para minha consulta eu dou uma boa olhada ao redor. A consulta tem muitas janelas, assim as coloco tidas em uma fila e as abro da mesma maneira.

Endireito as poltronas de veludo vermelho, reponho o que resta das velas acesas desde a manhã e logo pego o telefone para informar a Tuna que estou pronta.

Tuna abre a porta, se afasta de deixa passar a Dona Zeynep . Eu já  estou de pé junto à porta, preparada para recebe-la e acompanha-la até seu assento.

É uma mulher jovem com características suaves e sutis e olhos brilhantes, que não brilham de felicidade. Carrega um casaco grande de cor bege e um lenço colorido enrolado na cabeça como se usa um turbante.

Quando ela me dá a mão, sorri nervosa. Olha para o quarto, os quadros que estão pendurados na parede e para as lâmpadas, e logo diz:

- Seu espaço é como eu o imaginava após ler seus livros

Bom, esse pelo menos é um bom começo. Me ajuda muito a fazer meu trabalho se meus pacientes tiverem lido meus livros anteriormente, porque geralmente escrevo muito sobre mim e ao lê-los frequentemente acreditam que me conhecem um pouco melhor e se sentem mais próximos de mim.



Os ajuda a falar com mais liberdade. Também me sinto mais próximo

a deles quando me dizem que já leram meus livros, curiosamente. Como se já os tivera conhecido antes em algum lugar do passado.

Lhe pergunto se deseja tomar alguma coisa. A pricípio diz que não, mas logo me pede um chá. Tuna nos traz dois chás e se vai. Dona Zeynep começa a falar antes que eu tenha chance de lhe fazer uma pergunta.

_ Tenho tantos problemas, Dona Gulseren, que não sei por onde começar. Até o momento não os contei a ninguém. Bem dizer, não são o tipo de coisas que se saem contando por aí, mas é que ultimamente eu tenho me sentido muito mal. Não sei o que fazer nem sei como sair deste mato , dessa maneira como último recurso, eu vim até aqui para falar com você na esperança que possa me mostrar o caminho.

- Bom, você tomou a decisão correta, Dona Zeynep.

- Eu prefiro que me chame somente de Zeynep

- Claro, pode continuar, Zeynep, que te estou te escutando.

-Bom, doutora, talvez eu devesse começar por lhe contar coisas anteriores de minha vida. Já que a minha não foi uma vida convencional. Tem sido bastante peculiar, com algo que saiu de um filme. Realmente não sei como eu cheguei aonde estou.

Ela respira profundamente e parece que está a ponto de chorar. Seu passado, algo de seu passado a perturba claramente. Quando a observo com mais atenção vejo algo peculiar nela, mas eu ainda não posso precisar o que.

Sua aparência e suas roupas me lembram a de uma dona de casa mais bem mais simples e nada excepcional. Porém, há algo em seus olhos que me diz que ela teve uma ótima educação e que tem uma profissão muito respeitada.

- Venho de uma família muito pobre. Meu pai era pedreiro em uma construção e minha mãe limpava a casa das pessoas. Sou a mais nova de três irmãos. Tenho um irmão e uma irmã. Meu irmão Remzi era um estudante muito bom, mas meu pai queria que ele trabalhasse e que ajudasse a manter a família.

- Como era seu pai?

- Nem queira saber... era um sem-vergonha de primeira linha. Passava o dia trabalhando nas obras e ao final do dia de trabalho guardava as ferramentas e ia gastar tudo que ganhava em um bar. Era minha mãe quem mantinha nossa casa de pé. Por quase nada, quando meu pai chegava em casa, armava um escândalo se minha mãe se atrevesse a abrir a boca. Lhe dava uma surra e logo começava a bater na gente.

A maioria das brigas em nossa casa se davam porque minha mãe queria que seu filho tivera educação e dizia ao meu pai que era ela quem pagaria seus estudos e ela não queria que ele abandonasse. Mas quando ela dizia isso, meu pai se irritava e quebrava quase tudo que tinha dentro de casa. Depois se virava contra Remzi e o culpava por tudo.



No final, Remzi teve que começar a trabalhar com meu pai nas obras da construção, mas também se matriculou em aulas noturnas para poder terminar a escola e obter o diploma de ensino médio.

Era um garoto inteligente que não queria ser como nosso pai, um homem sem escrúpulos que nem sequer lhe dava dinheiro ao seu próprio filho para pegar um ônibus que fosse.

O pobre garoto terminava de trabalhar e em seguida caminhava quilômetros para chegar até a escola. Eu por outro lado, era muito nova naquela época e era a minha  irmã que se encarregava da casa. Ela só tinha dez anos. Terminava a escola e se colocava a fazer as tarefas domésticas ao chegar.

- Te deixavam com frequência sozinha em casa?

_ Muitas vezes! Quem estaria ali para cuidar de mim? Minha mãe saía de saca e ia trabalhar na primeira hora da manhã, Remzi ia com nosso pai e quando Gulbin ia para escola, eu estava tão assustada sozinha em casa que ficava sentada junto à janela durante horas esperando que ela voltasse.

- Que idade tinha nessa época?

- Não sei. Acho que uns dois ou três anos, saíam de casa e fechavam as portas. Me deixavam com algo para comer e um prato, mas isso era tudo. Quando minha irmã voltava para casa eu ficava tão feliz que nem podia acreditar. Não me separava dela. Ela também era pequena, mas já estava na escola primária, e nós não tínhamos outro remédio a não ser nos cuidar. De toda maneira, depois de um tempo, nosso Renmzi caiu doente. Primeiro disseram que era pneumonia, e depois que era tuberculose. Ele esteve no hospital por meses, sozinho, a maior parte do tempo. Não havia ninguém com ele. Mamãe o visitava depois do trabalho sempre que podia e lhe levava algo de comer da nossa casa. Remzi morreu quando eu tinha apenas 5 anos. Lembro que minha mãe agarrou a gente e gritou o nome dele por horas. A relação dos meus pais rachou depois disso. Minha mãe passou a gritar com meu pai e a dizer a ele que a culpa da morte do meu irmão era dele, o que o fazia ficar ainda mais nervoso, e ele respondia:

- Não culpe a mim. Se o tempo para ele acabou, não podíamos fazer nada.

Com isso, claramente seguiram mais brigas, mais gritos e mais caos. Finalmente, após essa época e por causa da morte de Remzi, minha mãe decidiu de separar. Ela disse:

- Eu sou a que traz dinheiro para casa, não precisamos de você.

- Sua mãe tinha algum parente?

- Sim, mas todos estavam afastados no interior. Não tínhamos a ninguém em Istambul. Se tivéssemos voltado ao interior, teríamos morrido de fome. Meu pai sabia disso. Ele era um homem incrivelmente possessivo e quando a mamãe lhe abandonou, as coisas pioraram muito.


Ele pegou uma faca na cozinha e ameaçou matar a todos nós se fôssemos embora. Lembro de ter gritado com toda força do meu pulmão durante esse incidente , em particular. Que tipo de pai era esse? Um homem que deveria amar e proteger sua família...

Este é o mundo em que Zeynep nasceu. Um mundo que – para ela – sempre foi muito perigoso, malvado, cruel e injusto.

Quanto mais ela se lembra daqueles dias mais ela vai apagando a luz que vi seus olhos quando entrou pela primeira vez na sala.

- Deve ter sido um momento muito difícil.

- Doutora, foi mais que difícil. Foi um verdadeiro pesadelo. Tinha vezes que a gente passava o dia na cama com medo de nos levantarmos pelo que nosso pai poderia fazer conosco. Minha mãe não queria mais esse casamento porque considerava o meu pai responsável pela morte do seu filho, mas nos dizia que tinha medo de que ele fizesse algo que nos colocasse em perigo se ela tentasse fugir.

- Sua irmã estava estudando nesse momento?

- Nossa mãe estava tão assustada que a enviou até a escola. Eu também ia para escola, mas ao final minha irmã teve que abandonar porque não era mais possível estudar. Ela não parava de tirar notas ruins nos boletins e isso colocava meu pai furioso. Ele a pegava pelo ar e golpeava na cabeça contra o chão. Gritando por todo dinheiro que se gastava com sua educação. Então ela se casou e saiu de casa antes de fazer 18 anos.

- Como ela está agora?

- Como acha? Ela está um desastre. Não queria se casar. Só queria sair de casa, assim se casou com o primeiro cara que apareceu, mas ele também vinha de uma família pobre. Quando se foi minha irmã eu fui a única que sobrou na casa. Quando terminei o ensino fundamental, meu pai me tirou da escola. “Enviamos os outros para escola e olha os que lhe aconteceu...não era bom em para eles nem para os outros. A leve para seu trabalho e a ponha para trabalhar.  Quem sabe talvez ela adquira alguma habilidade útil”, lhe disse à minha mãe. Desta vez minha mãe  não se opôs.

Meu pai lhe jogava a culpa de que minha irmã tinha saído de casa.

“Você a enviou para escola e foi lá que ela encontrou esse garoto. Se ela tivesse ficado em casa, não teria sujado meu nome por toda vizinhança desta maneira”

Ela segue fechando os olhos enquanto fala, como se quisera voltar a esses dias, porém há algo de errado com a história que conta, sua forma em que fala e seu tom de voz. Seus gestos, sua postura e sua linguagem corporal contam uma história diferente. Não me parece alguém que tenha saído de uma casa como a que me descreveu. Há algo mais alarmante no modo com que ela dispara de falar de sua vida antes que eu a pergunte.

Se não tivesse dito nada, eu suporia que era uma mulher muito culta. Vejamos aonde nos leva essa história.

- Me diga, em sua classe, que tipo de aluna era?

- Era muito estudiosa e só tirava boas notas. Quando meu pai interrompeu seus estudos, chorei durante dias e lhe implorei que me deixasse voltar a estudar, mas ela não me escutou. Minha mãe não me defendeu e no final deixei a escola e comecei a acompanha-la em seu trabalho. Ela fazia faxina em uma casa, de um rico casal de meia idade mas sem filhos. O marido era um burocrata de alto escalão. A mulher trabalhava mas teve que deixar o trabalho por problemas de saúde.


- O que ela tinha?

- Tinha artrite reumática e não melhorava. Com o tempo, começou a se encurvar e suas articulações se inflamavam dolorosamente.

Artrite reumática. Ela disse com a clareza e a precisão de um profissional de saúde.

- Quando íamos lá, minha mãe se encarregava das tarefas domésticas e eu ajudava a Senhora Nermin. Era uma mulher doce e carinhosa. Sempre arrumava tempo para me escutar. Me tratava com respeito.

Deve ser estranho para ela quando a levam a sério quando ninguém em sua vida até então havia se preocupado em escutá-la.

- Te contei que meu pai não me deixava ir à escola, ainda que eu desesperadamente queria estudar. Ela me perguntou se eu seguisse estudando o que gostaria de ser e eu lhe disse que queria ser advogada.

Muitas crianças que a vida tratou injustamente querem ser advogadas quando crescem. Bom para eles.

- Um dia ela se virou para mim e perguntou “porque não vira nossa filha? Podemos obter consentimento de seus pais, preparar os papéis e logo poderá vir viver aqui com a gente. Te deixarei ir à escola. Pode me fazer companhia aqui em casa”

- Mas que sugestão maravilhosa. Como se sentiu? O que lhe disse?

Ela fica em silêncio. De novo fecha os olhos e pensa no que sentiu. Talvez ninguém tenha lhe feito essa pergunta antes.

- Não sei. Estava muito feliz, mas ao mesmo tempo tinha muito medo. Imagina você passar de sua modesta e improvisada casa em um dos bairros mais pobres a um enorme apartamento luxuoso em um condomínio. E não somente para ser uma empregada daquela casa, mas sim a filha daquela família. Corri até minha mãe e lhe disse que a Senhora queria falar com ela.

Quando a Senhora Nermin lhe fez a oferta, minha mãe ficou sem palavras e disse que falaria com meu pai.

No caminho para casa, apenas pudemos conter nossa emoção, mas eu e minha mãe dividimos a mesma ansiedade. Quando meu pai chegou em casa essa noite, nós não lhe dissemos imediatamente porque ele estava bêbado e não sabíamos como ele reagiria.

Decidimos consultá-lo já no travesseiro. Apenas fiquei de olho, por segurança como pode imaginar.

Porém, quando eu acordei na manhã seguinte, meu pai estava saltando de alegria. “Vem aqui minha filha, vem aqui” ele disse fazendo sinais para que eu chegasse perto. Era a primeira vez que ele se dirigia a mim  como “minha filha”

As lágrimas escorriam por seu rosto. Não pude evitar me sentir triste Penso em meu pai. E quando criança eu lembro que pensava que todos os pais eram como o meu. Que sempre tinham uma palavra doce para seus filhos, que os tratavam com o mesmo respeito com que trata os adultos, que se alegravam em escutá-los durante horas, que lhes levavam chocolates e guloseimas à noite... todos alegres, lindos e honrados cavalheiros, que vestiam trajes elegantes azul marinho.

- Estava eufórico e disse para minha mãe que tínhamos ganho na loteria. Quando ele disse isso, minha mãe também começou a comemorar. Nesse mesmo dia, arrumaram uma mala pequena com minhas poucas roupas puídas,  minha  velha mochila escolar e um par de sapatos, e nós fomos a casa da senhora Nermin. Quando ela nos viu de pé na porta, eu com minha malinha, se deu conta de que tínhamos aceitado a oferta. Acompanhou minha mãe para o outro lado, se sentou com ela e lhe disse> “Senhora Sakine, agora ela é a filha dessa casa. Como vem aqui quase diariamente, a verá e falará com ela quase sempre que o desejar. Ah e por favor, pegue o conteúdo dessa mala e dê a alguém que a queira. Sua filha não precisará de nada disso aqui.” Minha mãe beijou a Senhora Nermin na mão e disse: “Agora ela está em suas mãos”e isso foi tudo. Esse mesmo dia, a Senhor Nermin me levou para fazer compras e me deu tudo que precisava. Compramos tanto que nem podíamos levar até em casa, assim que seu marido, o Senhor Ekrem chegou, nos enviou um carro. Um dos quartos de seu apartamento ela reservou para mim, a senhor Nermin falou com as escolas locais na mesma semana, me compararam móveis novos para meu quarto e em poucos dias eu já estaria começando, ainda que um pouco tarde, o segundo ano da escola.

Devia ser como um sonho. Esse tipo de coisas que somente vemos nos filmes. Me pergunto como isso pode afetar uma menina dessa idade.

- Como isso te fez sentir, Zeynep? Uma mudança tão repentina e drástica em sua vida?

- Durante muito tempo tive medo que tudo fora um sonho e que me acordariam e eu estaria na antiga casa do bairro que morava com meu pai me chamando aos gritos. A forma como essa nova família havia preparado e decorado meu quarto..., nunca tinha visto nada igual. Estrados brancos como a neve, colchas com os detalhes mais delicados, travesseiros de plumas leves, uma escrivaninha branca, uma lâmpada de estúdio, um monte de cadernos de todos os tamanhos, canetas e lápis, tintas e pincéis, roupas bonitas no armário, meias brancas e limpas e muitos pares de sapatos maravilhosos...lembro de tê-los experimentado um a um e de tê-los abraçado e acariciado. E você não imagina as camisolas que me compraram: tão coloridas, com belas estampas florais, e os mais bonitos animais nelas. Estava matriculada em uma escola de crianças ricas. Quando ia à escola pela manhã, meus novos pais colocavam dinheiro em meus bolos diariamente. Um ônibus escolar me buscava todas as manhãs e me deixava em casa à tarde, e quando chegava em casa haviam pratos com tortas e bolos caseiros, todos feitos pela minha mãe. Toda a casa era impecável, e a senhor Nermin me recebia com um grande sorriso e um abraço.

O Senhor Ekren voltava à casa pela tarde mas não haviam discussões ou brigas. Não me faltava nada. Era incrível. Durante muito tempo, senti que estava sonhando. Não estava acostumada a uma vida assim. No início eu tinha medo que tudo se acabasse, eu comia tanto que me doía o estômago. E não somente isso, eu escondia a comida em meu quarto para poder comer depois. Inocência infantil, suponho. Mas então a senhora Nermin me explicou toda situação e mandou colocar uma pequena geladeira no meu quarto que ela mantinha sempre abastecida para mim.

Me disseram que o conteúdo da geladeira era todo meu e que quando acabasse, reporiam.

“Não precisa se apressar nem se assustar . Come o quanto quiser” me disseram.

Veja quão mal me comportei, a quem eu poderia contar tudo isso?

Quem iria acreditar?

 


-Veio ao lugar certo, Zeynep, e o está dizendo a pessoa adequada. Não vou lhe julgar como você está se julgando. Você era somente uma criança e para uma criança que nunca tinha visto tanta fartura, esse comportamento era perfeitamente natural. Não acha?

- De verdade? Acho que sim. Não sei. Me sinto tão envergonhada pelo meu comportamento.

- Seus novos pais tão pouco te julgaram ou te condenaram. Eles te conheciam

- No início eu tinha vergonha de comer a comida que me davam. Não sabia o que se passava quando mudei para aquela casa. Mas pouco a pouco fui me acostumando a eles, e eles a mim. De modo que em um ano eu já era a melhor aluna da escola. E também comecei a comer tudo que comia minha nova família. Bom, mais precisamente, o que minha mãe comia.

- Sua mãe seguia trabalhando em casa?

- Ah sim, ela estava ali o tempo todo. Nos preparava o café da manhã e uma vez que o tomava ela me ajudava  a trocar de roupa e me acompanhava até o ônibus da escola. Minha mãe passava o dia inteiro limpando, esfregando, varrendo e voltava para casa esgotada. Quem sabe o que fazia meu pai quando ela chegava em casa à noite. É certo que comia em minha casa nova, mas as vezes eu mal podia desfrutar da comida porque me preocupava com meus pais.

De modo que em um ano depois mais ou menos, meu pai ao ver que havia me instalado de verdade, chamou o senhor Ekren à porta e disse que tinha dívidas e necessitava de dinheiro. O senhor Ekren disse que o encontraria em outro local e arrumou um emprego ao meu pai. Agora ele ganharia um pouco mais e por isso se mudaram de nossa casa antiga para uma maior, mas agora minha mãe me olhava com raiva cada vez que nos víamos na casa. A forma como ela me olhava fixamente quando me sentava à mesa e ela nos servia era como se eu tivesse cometido algum crime terrível.

- Mas por que?

- Acredita que é possível que as mães sintam inveja de seus filhos?

Eu não gosto dessa pergunta. Posso responder positivamente ou negativamente já que tenho elementos de verdade em ambas as respostas, mas no final das contas, as mães também são mulheres e portanto possuem todas as qualidades – boas e ruins – que são exclusivas dos seres humanos.

- O que te parece?

- Não posso dizer. Mas sentia que a corroía me ver bem e ver quão bem me tratavam naquela casa. Somente íamos trabalhar naquela casa ( ...) A senhora Nermin também se deu conta do que havia passado. Eu era tão feliz ali, mas os olhares de minha mãe ...pareciam com as das garotas da escola. A senhor Nermin sempre sorria como uma verdadeira mãe quando ia falar com os professores que elogiavam meus trabalhos. Me comprava presentes como recompensa por todo meu esforço na escola.

- Parece uma boa mulher. E durante suas férias escolares? Você voltava à caasa de seus antigos pais?

- Ah não. Quando acabava a escola, a Senhor Nermin e eu íamos a sua casa de verão de Buyukada. Devido aos seus compromissos profissionais, o Senhor Ekren somente podia ficar conosco na ilha por um mês. Assim minha mãe seguia limpando seu apartamento. Quando o Senhor Ekren vinha ficar conosco em Istambul, minha mãe voltava para sua comunidade. Ah, Senhora GUlseren, eu fui muito abençoada por eles. A forma com que ela cuidava de mim, eu mal sabia a sorte que tinha.

- Porque diz isso?

- Te explico. O senhor Ekrem se aposentou no ano em que eu acabei o segundo ano da escola. E a família decidiu se mudar para Istambul.

- Aonde viviam até então?

- Em Ankara. Estava angustiada porque sentia que ia deixar minha verdadeira família para sempre. Na realidade não me importava de não ver mais meu pai, mas me preocupava por minha mãe e pelo que poderia lhe acontecer. Mas ela não me parecia nada preocupada.  Com tinham trabalhado para Senhore Nermin por anos ela lhe pagou uma boa indenização. Ela recebeu tanto dinheiro que estava encantada, dizendo que não precisaria mais voltar a trabalhar. Nem sequer veio se despedir de mim quando nos fomos. NO final nos instalamos em uma casa em Moda, em Istambul. Mas seguíamos passando os verões em Buyukada. Com o tempo passei a esquecer um pouco minha antiga família.  A Senhora Nermin e o Senhor Ekren eram agora minha família.

- Não teve mais nenhum contato com sua família biológica?

- EU os ligava todo tempo e perguntava por eles. Mas toda vez que nos falávamos minha mãe só reclamava de meu pai, minha irmã mais velha se queixava das surras que o marido dela lhe dava e meu pai só me chamava para pedir dinheiro. Mas claro que eu não tinha. Assim eu pedia ele que falasse com a Senhora Nermin. As vezes ele ligava para o Senhor Ekren para lhe pedir dinheiro também. As constantes queixas e reclamações eram exaustivas. De toda maneira terminei o ensino médio e comecei a faculdade. Com lhe disse antes, a Senhora Nermin era como uma mãe. Se preocupava comigo e sempre era carinhosa. Sabia do que eu precisava antes mesmo de eu pedir a ela.  E sempre se assegurava de que tivesse o que precisava. Eu gostava de ficar em casa com ela, sempre sentávamos juntas como uma mãe e uma filha e falávamos de tudo debaixo do sol.

NA faculdade eu tinha me apaixonado por um cara chamado Faruk, com a Senhora Nermin eu podia falar abertamente sobre ele. Se eu precisasse ir a alguma lugar eu tinha um carro para me levar e um motorista para me buscar. A Senhora Nermin conheceu Faruk e lhe tratou com bastante carinho.

- Sua família sabia dele?

- De maneira alguma. Raramente se importavam em me perguntar como eu estava ou o que estava fazendo ou o que havia feito. A única coisa que se importavam era com o dinheiro e me envergonhavam diante de todos mundo por isso. Minha mãe já nem se parecia mais com a mãe que eu tinha conhecido. O fato de eu vivia com tanta fartura era algo cravado em sua espinha nas costas e cada vez que me chamava dizia algo para me ferir. NO fim, finalmente me graduei em Direito.

- Você se formou em Direito?

- Sim

- Porque não me disse desde o início, estou te olhando tentando entender-te desde que entrou aqui

- Aposto que está pensando “Olha o estado dessa mulher. Estudou tanto para estar esse desastre”

AS vezes posso ler a mente de meus pacientes, mas outras são eles quem leem a minha. É quase isso mesmo que eu estava pensando.

- Pois temo que sim, o que se passou Zeynep?

- Não sei se vou ou volto, de verdade!

- Porque, o que aconteceu?

- Se soubesse! Tudo esta funcionando. Deus me deu essa oportunidade, mas eu a desperdicei. Estúpida, estúpida que eu sou.

Mas que diabos teria se passado? Tudo parecia estar indo tão bem. A vida dela mudou para melhor.

- O que aconteceu, Zeynep?



- _-No ano em que me graduei, Faruk foi servir no exército. Pensamos em casar quando ele voltasse. A Senhora Nermin pegou o telefone e deu a notícia a minha família da maneira mais doce,  “é um garoto encantador e se Deus quiser, se casarão quando ele tiver terminado o serviço militar. Daqui a pouco, Zeynep também começa a trabalhar. Se quiserem, podem investigar sobre Faruk e seus antecedentes. Assim que ele voltar, ele e sua família virão pedir a mão dela em casamento” Não sei o que aconteceu, mas seja o que for, foi depois. Meu pai se colocou a mil. Reclamou com a Senhora Nermin e com o Senhor Ekren, lhes perguntando quem diabos eles achavam que eram para dar a minha mão sem consultar meus verdadeiros pais. Uma semana mais tarde, meus pais biológicos apareceram em Istambul como um trovão e disseram: “Vamos casar nossa filha com outra pessoa. O rapaz é médico. Também é um primo distante dela. Já se meteram demais em sua vida”.

- Conhecia a esse médico?

- O conhecia desde que éramos crianças. Era praticamente o único que saía de nossa comunidade. Sua família não parava de se vangloriar porque seu filho estava estudando na universidade para ser médico. Só sei que isso foi um baque quando meus pais nos deram essa notícia. A Senhora Nermin me abraçuo e disse: “Minha filha, já não é mais uma criança. Já é suficientemente grande para tomar suas próprias decisões. Não disse nada, mas como sua amiga durante todos esses anos, tenho medo de que cometa um erro terrível. Essa é a sua vida e sua decisão. Pense bem e não te precipite.

- E o que fez, Zeynep?

Ela abaixa o rosto e começa a chorar me dizendo : “ Se não voltar com a gente, nunca terá minha benção” Isso foi tudo que ouvi, nada mais. Incluindo meu pai que nem sequer chorou pela morte de seu  próprio filho, estava encurvado e chorando.  “Você é nossa filha, nós queremos que se case com alguém que nós conhecemos e que te ajeite a vida. O rapaz que escolhemos para você já tem um tempo que te segue na internet. Ele e sua filha virão vê-la. Te darão uma boa vida.”ele disse em lágrimas.



NO final convenceram a senhora Nermin de me deixar ficar com eles por uma semana e , com isso, me pegaram pelo braço e me arrastaram de volta para casa. Chorava, mas ao mesmo tempo podia entender o que estavam passando. No dia seguinte, Mehdi apareceu. Se eu o tivesse visto na rua não o teria reconhecido. Me olhava com ar de nostalgia, pedindo-me que aceitasse. Em uma semana, me tiraram o “sim”

- Mas foi contra sua vontade, não?

- Não sei, não sei como eu disse. Não podia suportar ver minha mãe tão alterada. Quando me disse que não me daria sua benção se eu não fizesse isso...

 

(Continua no próximo vídeo)


O vídeo acima é a mesma versão traduzida lida por mim para subir no Canal para quem preferir escutar ao invés de ler.

Já publiquei também o primeiro vídeo com os primeiros capítulos que abordam Camdaki Kiz

2 comentários:

  1. Coitada da Zeynep, fiquei com pena dela e de todas as pessoas que passaram pela mesma situação na vida real (que não são poucas).

    Danielle Medeiros de Souza
    danibsb030501@yahoo.com.br

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  2. Interessante conhecer Mais profundamente a obra e ver como os produtores conseguiram transformar em uma dizi dr sucesso

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