quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

A voz que resta

 


Título Original: A Voz Que Resta 

Ano: 2025

Direção: Gustavo Machado, Roberta Ribas

Roteiro: Vadim Nikitin

Elenco: Gustavo Machado, Roberta Ribas

Nota: 4/5

Por Amanda Gomes


Em A Voz que Resta, Paulo, um jornalista e escritor frustrado, vive preso em um ciclo de trabalho medíocre, bloqueio criativo e um relacionamento destrutivo com Marina, sua vizinha casada. 


Marina, garçonete e aspirante a atriz, seduziu Paulo no elevador e desde então o mantém em seu radar, sem nunca deixar o marido que vive no mesmo prédio. Em uma noite de desespero e exaustão, Paulo decide romper com tudo. 


Prestes a se mudar, bêbado e sozinho no eco do apartamento vazio, ele grava uma fita cassete como despedida. Entre amor, ódio e autodepreciação, Paulo transforma o gravador em confidente, registrando uma confissão visceral para Marina, a musa que o destrói e fascina.


Enquanto o gravador e uma câmera digital capturam os bastidores de seu luto amoroso, o público assume o lugar de Marina, testemunhando a exposição crua de um homem tentando enterrar seu passado e encontrar algum alívio em meio à dor que ele próprio perpetua. 


A estética do filme reforça essa atmosfera introspectiva. O cenário, repleto de livros, discos e garrafas, não apenas enriquece a ambientação, mas também funciona como um reflexo da personalidade do protagonista. Cada detalhe espalhado pelo apartamento contribui para construir um retrato sensível de um homem à deriva em suas emoções.  


A direção de Machado e Ribas utiliza planos fechados e ângulos variados para manter o dinamismo da narrativa, algo essencial para um filme que depende inteiramente de um único personagem em cena. A câmera acompanha suas oscilações emocionais, destacando a vulnerabilidade e a confusão trazidas pelo álcool. A fotografia, por sua vez, usa as cores para intensificar os sentimentos do protagonista, com especial atenção para o vermelho, que domina a paleta e reforça a paixão e a dor presentes em sua confissão.  


O monólogo de Paulo, ao mesmo tempo caótico e poético, não busca apenas esquecer a amada, mas sim entender e aceitar o fim do relacionamento. Seu discurso percorre lembranças, expectativas e a inevitável transformação que vem com o encerramento de um ciclo. Gustavo Machado entrega uma atuação marcante, mantendo o tom emotivo sem exageros, tornando sua fala crível e profundamente humana.  


A trilha sonora complementa a narrativa com sutileza, pontuando os momentos de maior intensidade emocional. O ritmo do filme, mesmo dentro de um espaço limitado, não se torna monótono, graças ao equilíbrio entre pausas, movimentos e variações de tom na atuação.  


“A Voz” preserva sua essência teatral, mas encontra no cinema um espaço para expandir sua profundidade emocional. É um filme verdadeiro e certeiro, que fala sobre a necessidade de lidar com términos e mudanças. Sensível e bem executado, ele envolve o espectador ao transformar um simples desabafo em uma reflexão universal sobre o amor e a despedida.

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