terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

Trilha Sonora Para Um Golpe de Estado

 


Título no Brasil: Trilha Sonora Para Um Golpe de Estado

Título Original: Soundtrack to a Coup d’État

Ano: 2023 

Direção: Johan Grimonprez |Roteiro Johan Grimonprez, Pirouz Nemati

Nota: 4/5

Por Amanda Gomes

Países: França, Bélgica e Países Baixos


Dirigido por Johan Grimonprez, “Trilha Sonora para um Golpe de Estado” é um documentário tão fascinante quanto caótico. Misturando política, música e geopolítica, o filme conecta o assassinato de Patrice Lumumba, o colonialismo no Congo e a Guerra Fria ao jazz estadunidense, um combo inesperado, mas que funciona na maior parte do tempo.  


O ponto de partida é a morte de Lumumba, primeiro-ministro do Congo, em 1961. A partir daí, Grimonprez nos leva por um labirinto de conexões surpreendentes: do papel da CIA na desestabilização de governos africanos à ironia de músicos como Louis Armstrong e Dizzy Gillespie sendo usados como “embaixadores culturais” dos EUA durante a Guerra Fria, enquanto o país enfrentava segregação racial.  


O jazz, no filme, é mais do que trilha sonora; é metáfora. Ele representa a liberdade e a improvisação, conceitos que contrastam dolorosamente com a repressão política e a exploração colonial tanto no Congo quanto nos próprios Estados Unidos. Essa dualidade é um dos pontos altos do documentário, que traz reflexões profundas sobre como cultura e política estão interligadas.  


Visualmente, o filme é deslumbrante. Grimonprez usa imagens de arquivo com uma curadoria impecável, criando momentos de puro impacto visual. No entanto, essa preocupação estética, por vezes, parece roubar a profundidade de certos temas. Andrée Blouin, conselheira de Lumumba e ativista pelos direitos das mulheres, é um exemplo: apresentada como uma figura fascinante, ela acaba ofuscada por outros elementos da narrativa, deixando uma sensação de potencial não explorado.  


O ritmo frenético, embora alinhado com a proposta de improvisação do jazz, pode ser exaustivo. O espectador é levado de Lumumba a mísseis, de propagandas da Apple a polvos gigantes, tudo em um curto intervalo de tempo. Essa abordagem pode confundir, especialmente para quem espera uma narrativa mais linear.  


Apesar do caos, “Trilha Sonora para um Golpe de Estado” brilha ao levantar questões que ressoam até hoje. A exploração dos recursos naturais do Congo, por exemplo, é relacionada diretamente ao ciclo colonial moderno, com referências à produção de iPhones e Teslas. É uma crítica poderosa que conecta passado e presente de forma contundente.  


Se por um lado o filme é ambicioso e provocador, por outro, sua tentativa de atribuir ao jazz um papel central na Guerra Fria pode parecer forçada. Será que artistas como John Coltrane realmente influenciaram tanto os desdobramentos geopolíticos? Essa questão permanece sem resposta, o que pode incomodar quem espera conclusões mais claras.  


No geral, “Trilha Sonora para um Golpe de Estado” é um documentário que desafia o espectador. Visualmente impressionante e intelectualmente estimulante, ele exige atenção total e uma mente aberta para conectar pontos que, à primeira vista, parecem não ter relação. É confuso, sim, mas é essa confusão que reflete a complexidade das histórias que o filme tenta contar.  


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