Título Original: Small Things Like These
Ano: 2025
País: Estados Unidos e Irlanda
Direção: Tim Mielants
Roteiro: Enda Walsh
Elenco: Cillian Murphy, Clare Dunne, Emily Watson
Nota: 4/5
Por Amanda Gomes
Ambientado em 1985, Pequenas Coisas Como Estas narra a história de Bill Furlong, um vendedor de carvão em uma pequena cidade irlandesa dominada pela influência da Igreja Católica. Às vésperas do Natal, Bill faz uma descoberta chocante ao encontrar uma mulher aprisionada em um galpão de carvão, vítima de punições impostas pelas Lavanderias Madalena, onde a Igreja mantinha aquelas que eram consideradas "fora do padrão".
Este encontro provoca um conflito interno profundo em Bill, que se vê dividido entre a emoção e a moralidade. À medida que os segredos obscuros da cidade começam a emergir, Bill confronta suas próprias memórias de infância, repletas de pobreza e anseios não realizados.
Com isso, ele se questiona sobre o que significa realmente a bondade e a compaixão em um mundo marcado pelo silêncio e pela opressão. Desafiado a lutar por justiça, tenta redefinir o verdadeiro espírito natalino em meio a revelações dolorosas.
Desde os primeiros minutos, “Pequenas Coisas Como Estas” mergulha em uma atmosfera fria e densa, típica da pequena cidade de New Ross, na Irlanda. Com uma fotografia acinzentada e um ritmo contemplativo, o filme nos apresenta Bill Furlong, um vendedor de carvão de poucas palavras e olhar sempre perdido em pensamentos. Mas não se engane: por trás desse homem aparentemente comum, existe um universo de conflitos internos que o levarão a uma escolha moral impactante.
Baseado no livro de Claire Keegan e dirigido por Tim Mielants, o longa escolhe um caminho diferente para contar a história das infames Lavanderias de Madalena — instituições que, sob o pretexto de reabilitação, exploravam e abusavam de mulheres que fugiam dos padrões morais da sociedade irlandesa. Em vez de focar diretamente nas vítimas ou nos opressores, a trama se desenrola pelo olhar de Bill, um homem que, sem querer, se depara com essa realidade e precisa decidir se segue ignorando ou se finalmente toma uma atitude.
A narrativa segue um ritmo lento, mas essa escolha faz sentido: acompanhamos a rotina monótona de Bill, seus pequenos gestos e silências carregados de significado. As constantes cenas dele lavando as mãos ao chegar do trabalho, por exemplo, parecem simbolizar sua tentativa de se manter afastado da sujeira — tanto literal quanto metaforicamente. Mas essa ilusão se desfaz quando ele descobre uma jovem maltratada dentro do convento local. Esse encontro não apenas o confronta com sua própria história, já que sua mãe também sofreu nas mãos desse sistema, mas também o coloca diante de uma encruzilhada moral: ajudar ou se calar?
Cillian Murphy entrega mais uma atuação brilhante. Seu olhar expressa tudo o que palavras não dizem, e seu jeito contido reforça o peso de sua jornada. Emily Watson, mesmo em uma aparição breve, brilha como a madre superiora do convento, com um tom de voz controlado e uma presença que exala poder. A cena entre os dois é uma das mais impactantes do filme, deixando claro como o sistema se manteve inquestionável por tanto tempo.
Porém, apesar das qualidades técnicas e das atuações marcantes, o filme deixa uma sensação de que poderia ter ido mais fundo. Ao escolher contar essa história apenas pelo olhar de Bill, a obra acaba limitando a exploração do sofrimento real das mulheres nas Lavanderias de Madalena. Os flashbacks da infância de Bill ajudam a dar contexto, mas também tornam sua motivação mais previsível e segura, sem a complexidade que a história merecia.
“Pequenas Coisas Como Estas” é um filme bonito, delicado e com um final que fecha o ciclo de forma satisfatória. Mas, assim como seu protagonista, parece hesitar em dar um passo maior. Quando os créditos sobem e nos deparamos com os dados assustadores sobre as Lavanderias de Madalena, fica um gosto agridoce: faltou coragem para mostrar a história com toda a força que ela carrega.
Ainda assim, vale a pena assistir. Nem que seja para lembrar que, por mais que tentem esconder certas verdades, sempre chega o momento em que precisamos abrir os olhos — e agir.
Eu, Raffa Fustagno, assisti a esse filme em uma pré no Carnaval.
No Canal eu fiz a minha crítica, mas essa tem spoilers!
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